ÍCONES DO CINEMA MUDO - BUSTER KEATON
Buster Keaton foi um dos principais nomes da comédia clássica do cinema mudo. Ao lado de Chaplin e Harold Lloyd, desfrutou de grande popularidade no gênero. Sua carreira teve altos e baixos e após sua morte, entrou em um breve período de esquecimento, sendo ofuscado por Chaplin. Nos últimos anos, houve um cuidadoso resgate ao seu legado e importância, e as novas gerações descobriram toda sua genialidade e talento.
Quando criança, ele se apresentou em shows de vaudeville com sua família, o que teve grande importância em sua carreira posterior no cinema. Seu nome de batismo era Joseph, mas devido aos números de vaudeville, onde ele sempre caía ou era arremessado, passou a ser conhecido como "Buster", gíria para imbecil e associada a quedas e trapalhadas.
Sua carreira no cinema começou ao conhecer Fattu Arbuckle, que o convenceu a atuar em um curta chamado "O Açougueiro" (The Butcher Boy) em 1917. Ele trabalhou em cerca de 14 curtas com Arbuckle até 1920. Ainda em 1920, estrelou seu primeiro projeto como protagonista e recebeu sua própria unidade de produção de filmes, chamada Buster Keaton Productions. Após uma sequência de comédias em curta-metragens, ele passou a elaborar longas.
Durante a produção dos longas, ele realizou sua maior obra-prima: "A General" (The General), considerada até hoje um dos melhores filmes já realizados. Curiosamente, na época o filme não foi bem recebido. Possui também a cena mais cara já produzida durante a era silenciosa (a cena em que a locomotiva desaba de uma ponte).
Em 1928, seu contrato passou a ser gerido pela MGM e a partir disso, sua carreira entrou em declínio, pois ele perdeu toda a autonomia e liberdade artística. O primeiro filme sob contrato da MGM foi "O Homem das Novidades" (The Cameraman) de 1928. Durante a produção desse filme, ele notou que a MGM tinha apenas interesse em seu status e não em suas habilidades como produtor, diretor e roteirista. A MGM também impôs o uso de dublês em cenas perigosas, algo que Keaton jamais havia feito.
Após a transição para o cinema falado, foi demitido pela MGM em 1933, e em seguida partiu para Paris para fazer um filme. Ele ainda produziu e estrelou filmes para o estúdio Educational Pictures, comédias simples em sua maioria. Em 1937, retornou para a MGM como roteirista para os filmes dos Irmãos Marx. Em 1939, assinou um contrato com a Columbia para estrelar 10 comédias. Durante a década de 40, retornou mais uma vez para a MGM, desta vez escrevendo roteiros para os filmes de Red Skelton.
No final da década de 40 e início da década de 50, participou de alguns filmes como "A Noiva Desconhecida" (In The Good Old Summertime) e "Crepúsculo dos Deuses" (Sunset Blvd). Do final da década de 40 até a década de 60, fez diversas participações televisivas. Ele faleceu em 1º de Fevereiro de 1966, aos 70 anos.
AS ATRIZES PRODUTORAS DO CINEMA MUDO
Norma Talmadge |
Durante a era silenciosa do cinema, era comum que as atrizes tivessem um papel mais significativo na produção dos filmes. Algumas se envolviam em todos os aspectos relacionados aos filmes em que atuavam. Havia também aquelas que decidiam abrir suas próprias produtoras, buscando maior liberdade e espaço para expressar sua criatividade. Algumas até arriscavam-se na direção; um exemplo notável é Lillian Gish, que dirigiu um único filme chamado "Remodeling Her Husband", atualmente considerado perdido. Abaixo, apresento uma lista de algumas atrizes populares da época que não apenas atuavam, mas também produziam seus próprios filmes.
Conhecida como "A Queridinha da América", Mary Pickford, com seus cabelos cacheados, irradiava uma aura angelical em seus filmes, ao menos nas telas. Nos bastidores, revelava-se uma mulher de personalidade forte e ativamente envolvida em todos os processos dos filmes em que atuava. Em 1918, Mary tornou-se a atriz mais bem paga do cinema americano. Além de sua notável carreira como atriz, desempenhou um papel fundamental na fundação da United Artists, uma empresa cinematográfica que buscava promover a independência na produção de filmes.
Em seus contratos com os estúdios, Mary incluía cláusulas que lhe conferiam poder absoluto de decisão sobre a produção dos filmes em que estrelava. Adicionalmente, detinha controle sobre a distribuição de suas obras cinematográficas.
Gloria Swanson, uma das mais lendárias atrizes do cinema mudo, foi ousada ao se aventurar na produção de filmes. Em 1925, uniu-se à United Artists e produziu "Sedução do Pecado" (Sadie Thompson), baseado no conto "Rain" de 1921, escrito por W. Somerset Maugham. O filme foi um sucesso, rendendo-lhe uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Atriz. Antes desse projeto, Swanson já havia produzido outro filme: "O Amor de Sunya" (The Love of Sunya), que, infelizmente, foi um desastre tanto nas bilheteiras quanto nas críticas.
Entre 1928 e 1929, ela produziu e protagonizou "Minha Rainha" (Queen Kelly), que, no entanto, tornou-se um fracasso de bilheteria. Em 1932, assumiu a direção de um final alternativo para o filme, visando um relançamento parcialmente sonoro. Ao longo de sua carreira como produtora, fundou três empresas cinematográficas: A Swanson Production Corporation, Gloria Swanson Productions e Gloria Productions, sendo esta última encerrada em 1930.
Além de atriz, Alla Nazimova, também conhecida simplesmente como Nazimova, desempenhava papéis como produtora, diretora e roteirista. Seus filmes eram marcados por doses de androginia, o que, na época, gerava incompreensão. No entanto, essas obras posteriormente ganharam reconhecimento como as primeiras manifestações artísticas no cinema.
Um exemplo notável desse trabalho é "Salomé", uma adaptação da peça de Oscar Wilde, que se destaca como a obra mais reconhecida de Nazimova. Além de produzi-lo, ela também o dirigiu, compartilhando a responsabilidade com Charles Bryant. O filme, por sua abordagem andrógina de uma história bíblica, estava à frente de seu tempo, resultando em fracasso de bilheteria e limitada distribuição, uma vez que os grandes distribuidores hesitavam em se associar à produção.
Os desafios enfrentados com "Salomé" levaram ao encerramento da carreira de produtora de Nazimova. Outro filme notável de sua produção é a versão de 1921 de "A Dama das Camélias", baseada na obra de Alexandre Dumas Filho. Nesta adaptação, ela transportou a narrativa para a década de 1920, explorando androginia e cenários em estilo Art Déco.
Norma e Constance Talmadge |
Parcialmente esquecida nos dias atuais, Norma Talmadge foi uma das atrizes mais emblemáticas da era do cinema mudo, destacando-se como um dos nomes de maior bilheteria naquela época. Especializada em filmes dramáticos, sua carreira teve um capítulo marcante ao unir-se em matrimônio com o produtor de cinema Joseph M. Schenck. Juntos, eles fundaram com sucesso sua própria produtora, a Norma Talmadge Film Corporation, estabelecida em 1917, um ano após o casamento.
A produtora empenhou-se em criar filmes luxuosos, destacando-se pela qualidade de elenco, direção e figurinos. Em 1922, ela produziu "Morrer Sorrindo" (Smilin' Through), que se tornou o maior sucesso de sua carreira. Paralelamente, sua irmã Constance Talmadge, mais conhecida por suas atuações em comédias, aproveitou a oportunidade para fundar sua própria produtora, a Constance Talmadge Film Corporation. Especializada em comédias, a empresa também incorporou a classe e o luxo característicos da companhia de sua irmã.
Asta Nielsen é reconhecida como uma das primeiras estrelas internacionais do cinema. Originária da Dinamarca, construiu sua carreira na Alemanha, alcançando uma popularidade tão notável que passou a ser conhecida como "A Grande Asta". Apesar de seu sucesso na Europa, enfrentou dificuldades para conquistar o público americano devido à censura de seus filmes, considerados demasiadamente ousados para a audiência dos Estados Unidos.
Na década de 20, Asta Nielsen estabeleceu seu próprio estúdio em Berlim, consolidando ainda mais sua posição na indústria cinematográfica. Em 1921, provocou polêmica ao produzir uma versão de "Hamlet". Essa adaptação causou controvérsia ao introduzir diversas alterações na trama, incluindo a modificação do gênero do personagem principal. Na narrativa, Hamlet foi apresentado como uma mulher que vivia disfarçada como homem para assegurar sua sucessão ao trono. Essa ousadia gerou discussões e debates, evidenciando a perspicácia criativa e coragem de Asta Nielsen em desafiar as convenções cinematográficas de sua época.
Florence Turner, conhecida como "Garota Vitagraph", em referência ao renomado estúdio Vitagraph Studios, um dos primeiros e mais prolíficos estúdios do cinema mudo, deixou uma marca significativa em sua época. O apelido derivou-se da prática comum na época, em que os filmes não creditavam explicitamente os artistas, e o público associava principalmente as atrizes aos estúdios responsáveis pela produção.
À medida que Florence Turner conquistava popularidade e seu nome se tornava reconhecido pelo público, ela transcendeu as limitações impostas pela falta de créditos, tornando-se uma das primeiras estrelas do cinema. Sua influência foi além da atuação, pois começou a escrever os roteiros dos filmes em que estrelava e, em algumas ocasiões, também assumia a direção.
Demonstrando ainda mais sua versatilidade na indústria cinematográfica, Florence Turner fundou sua própria produtora, a Turner Films, sendo responsável pela produção de trinta curtas-metragens.
CINEMATECA - VÍTIMAS DO DIVÓRCIO (1932)
Produzido durante o período Pre-Code, "Vítimas do Divórcio" (A Bill of Divorcement) possui todos os elementos para ser um filme comum, começando pela temática, mas consegue diferenciar-se e sobressair-se dos melodramas produzidos na época. Mesmo durante o Pre-Code, a produção de filmes moralistas que colocavam a mulher em um papel difícil era comum.
Meg (Billie Burke) vive com sua filha Sydney (Katharine Hepburn) e está prestes a se casar novamente. Ela mantém um relacionamento com um homem que a ama, e ela está disposta a encerrar seu casamento anterior. Entretanto, um dia, seu ex-marido Hilary (John Barrymore) retorna para casa, expondo todo o passado. Hilary passou anos em um sanatório devido a uma crise de insanidade desencadeada durante a guerra. Fugiu do sanatório em um momento de lucidez e considera-se curado. O que ele não sabe é que a vida ao seu redor continuou, e sua esposa conseguiu o divórcio alegando a incapacidade dele de manter um casamento devido à sua condição mental.
Ela enfrenta, então, a difícil missão de dar essa notícia a Hilary. Ele não aceita bem o fato de sua esposa ter se divorciado e pretendido se casar novamente. A situação também prejudica Sydney, que descobre que a insanidade é um problema familiar, levando-a a cancelar seu noivado. Assim, recai sobre Meg a difícil escolha entre um novo casamento ou uma vida aprisionada com o ex-marido.
Apesar de o filme apresentar Hilary como protagonista, o dilema principal concentra-se em Meg, em suas escolhas, dilemas e nos valores sociais. Sua cunhada sempre lhe fala que é seu dever cuidar do ex-marido, mas Meg sente-se desconfortável com esse papel. O filme consegue retratar todos os personagens como vítimas, mas Meg é a personagem que se espera que faça um sacrifício final. O filme torna-se ousado justamente por não oferecer o que é óbvio, garantindo um final interessante.
Esse foi o primeiro filme de Katharine Hepburn (creditada como Katherine), e já nessa primeira aparição, ela proporciona ótimos momentos, revelando-se uma excelente atriz dramática. Ela foi escolhida por George Cukor, diretor do filme, que ficou impressionado com seu teste de tela. Eles ainda trabalhariam em diversos filmes e tornar-se-iam grandes amigos. O filme foi baseado em uma peça teatral, adaptada para o cinema britânico em 1922 e regravada novamente em 1940.