CUPIDO É MOLEQUE TEIMOSO - UMA COMÉDIA DE ACERTOS
Durante as décadas de 30 e 40, foram produzidas em Hollywood, uma enorme sequência de comédias malucas (screwball comedy). As comédias malucas como o próprio nome diz, eram filmes que apresentavam situações fora do comum, atuações exageradas, um diálogo rápido, entre outras características marcantes. Mesmo sendo feitas em tom exagerado, algumas comédias malucas traziam críticas sociais, levando diversão e reflexão. Algumas comédias malucas funcionaram perfeitamente bem em sua época, mas acabaram não envelhecendo bem e o humor não sobrevivendo ao tempo por diversos motivos, incluindo os ideais ultrapassados, conversadores e machistas. Outras comédias sobreviveram bem ao tempo e mostram-se mais atuais e divertidas como nunca. E esse é o caso de "Cupido é Moleque Teimoso" (The Awful Truth).
Mesmo sendo uma comédia totalmente escrachada, "Cupido..." traz vários questionamentos sobre os valores matrimoniais, fidelidade e relacionamento entre casais. A comédia aborda o relacionamento do casal Jerry (Cary Grant) e Lucy (Irene Dunne). Ele mente para a esposa que havia viajado para a Flórida durante duas semanas, chegando até mesmo a fazer sessões de bronzeamento para trazer veracidade à sua mentira. Quando chega de sua suposta viagem, ele não encontra a esposa em casa e constata que ela passou a noite fora. Em seguida, Lucy chega em casa com seu professor de música e alega ao marido que passou a noite com ele pelo fato do carro ter quebrado. Durante a discussão Lucy descobre que Jerry não foi para a Flórida e por causa do clima de desconfiança mútua, um processo de divórcio é iniciado.
Apesar do processo de divórcio estar em andamento, Jerry e Lucy continuam na vida um do outro por causa da guarda compartilhada do cachorro de ambos. Lucy inicia um novo relacionamento e é assombrada por Jerry que sempre se faz presente. Quando Jerry se envolve com uma moça de família rica, Lucy decide dar o troco e fazer da relação deles um inferno.
O roteiro do filme é baseado em uma peça de mesmo nome escrita em 1923. Em 1925 foi produzida uma versão cinematográfica muda da peça com Warner Baxter e Agnes Ayres nos papéis principais. Em 1929 uma versão sonora foi produzida com Ina Claire e Henry Daniell. Posteriormente, a Columbia adquiriu os direitos da peça e contratou Leo McCarey para dirigir uma nova versão. O diretor não havia se agradado do tom do texto e muito menos das versões produzidas anteriormente. Ao lado dos roteiristas, ele propôs e fez diversas mudanças no texto, as mais significativas foram a remoção do tom moralista do texto e de uma passagem com violência doméstica.