Janete Clair revolucionou a teledramaturgia brasileira ao unir a tradição das radionovelas com o formato televisivo. Com mais de três décadas de carreira, deixou um legado de histórias intensas, personagens marcantes e tramas que equilibravam emoção, realidade e crítica social. Sua trajetória na Globo, marcada por sucessos como “Irmãos Coragem” e “O Astro”, definiu o padrão das novelas no país e estabeleceu seu nome como um dos mais importantes da história da televisão brasileira.
Seu legado como dramaturga moldou o formato das telenovelas nacionais e conquistou milhões de espectadores, com obras que marcaram gerações e influenciaram toda a estrutura narrativa da TV. Com talento para envolver o público em grandes tramas folhetinescas, ela se destacou pela habilidade de unir romance, ação e conflitos éticos em narrativas que acompanhavam o cotidiano do Brasil.
Antes de se tornar um nome central na televisão, Janete teve uma sólida carreira no rádio. Começou como radioatriz e locutora em 1943 na Rádio Tupi, e escreveu mais de 30 radionovelas. Sua estreia na televisão se deu também na Tupi, com a novela “O Acusador” (1964). No entanto, foi ao ingressar na Globo, em 1967, que sua carreira ganhou projeção nacional. Ela reformulou a novela “Anastácia, a Mulher Sem Destino” para resolver falhas estruturais da trama, o que incluiu um terremoto e uma passagem de tempo de 20 anos.
A partir de “Véu de Noiva” (1969), Janete passou a imprimir nas tramas um cotidiano mais próximo da realidade brasileira. Nos 16 anos seguintes, consolidou seu estilo de narrativas envolventes e acessíveis, com personagens fortes e tramas dinâmicas. “Irmãos Coragem” (1970), "Selva de Pedra" (1972), “O Astro” (1977) e “Pai Herói” (1979) são exemplos que refletem sua marca registrada na dramaturgia: histórias cheias de emoção, conflitos familiares e reviravoltas dramáticas.
Seu domínio das estruturas folhetinescas era acompanhado por uma sensibilidade para os dilemas morais e sociais que envolviam o espectador. “Pecado Capital” (1975), por exemplo, trouxe o tema da honestidade em meio à tentação de uma mala cheia de dinheiro roubado. Suas novelas foram interpretadas por nomes como Regina Duarte, Glória Menezes, Francisco Cuoco e Tarcísio Meira, que ganharam projeção nacional nas tramas criadas por ela.
Ao longo de sua trajetória na Globo, Janete Clair escreveu obras de ambientações variadas. Em “Sangue e Areia” (1967), situada na Espanha, abordava o universo dos toureiros. Já em “Passo dos Ventos” (1968), trouxe uma trama ambientada no Haiti, destacando um relacionamento interracial, algo ousado para a época. Em “A Rosa Rebelde” (1969), a autora inseriu a heroína Rosa Malena no contexto da resistência às tropas napoleônicas, misturando romance e história.
Apesar de sempre trabalhar com prazos apertados e sob enorme pressão por audiência, Clair mantinha um ritmo intenso de produção. Escrevia sozinha a maior parte dos capítulos, criando situações que mantinham o público em suspense dia após dia. Sua capacidade de sustentar o interesse do público por meses fez dela a principal referência para as telenovelas brasileiras e, ainda hoje, suas técnicas são estudadas e replicadas.
Seu marido, o também autor Dias Gomes, colaborava pontualmente com ideias, mas Clair fazia questão de assinar sozinha suas novelas. A separação entre os estilos dos dois era clara: enquanto ele se dedicava a uma abordagem mais política e engajada, ela buscava o impacto emocional, sem abrir mão de retratar questões sociais relevantes. Essa complementaridade os transformou no casal mais influente da teledramaturgia brasileira.
Janete Clair faleceu de câncer em 1983, aos 58 anos. Sua última novela, “Eu Prometo”, foi finalizada por Glória Perez. Mesmo após sua morte, sua influência continuou presente na televisão brasileira. Seu nome é sinônimo de sucesso popular, e suas histórias, muitas vezes recriadas ou homenageadas, seguem encantando novas gerações de telespectadores.
FONTES
https://www.itaucultural.org.br/secoes/series/os-40-anos-da-morte-de-janete-clair-a-usineira-de-sonhos-da-tv-brasileira
https://memoriaglobo.globo.com/perfil/janete-clair/noticia/especial-janete-clair.ghtml
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