"Auto da Compadecida" é uma peça teatral escrita por Ariano Suassuna em 1955, considerada uma das obras mais importantes do teatro brasileiro. A peça estreou em 1956 no Recife, Pernambuco, e rapidamente ganhou destaque nacional, sendo apontada como "o texto mais popular do moderno teatro brasileiro" pelo crítico Sábato Magaldi em 1962.
Ambientada no sertão nordestino, a história acompanha as aventuras de João Grilo e Chicó, dois amigos pobres que utilizam sua astúcia para sobreviver às adversidades e injustiças sociais. A narrativa combina elementos da literatura de cordel, cultura popular e tradições religiosas, apresentando uma crítica bem-humorada às hipocrisias da sociedade e à exploração dos menos favorecidos.
A primeira adaptação cinematográfica da peça ocorreu em 1969, com o filme intitulado "A Compadecida", dirigido por George Jonas. O roteiro foi coescrito pelo próprio Suassuna e Jonas, mantendo a essência e o humor característicos da obra original. O elenco contou com nomes como Armando Bógus (João Grilo), Antônio Fagundes (Chicó) e Regina Duarte (Compadecida).
O filme foi gravado na cidade de Brejo da Madre de Deus, em Pernambuco, buscando retratar fielmente o ambiente do sertão nordestino. A produção enfrentou desafios típicos do cinema nacional da época, incluindo a censura, mas conseguiu levar para as telas a riqueza cultural e a crítica social presentes na peça original.
O filme nasceu do encontro entre o diretor George Jonas e o autor Ariano Suassuna, unidos pelo fascínio pelo Nordeste. Após muitas conversas, a ideia do longa foi aprovada, e Jonas mudou-se para Pernambuco em 1967 para realizar pesquisas intensivas. As filmagens começaram em 15 de setembro de 1968 e terminaram em 1º de dezembro do mesmo ano. O projeto teve um custo de NCR$ 750 mil, financiado parcialmente pelos bancos do Estado de Pernambuco e de São Paulo, além de investimentos do próprio diretor.
Jonas enfatizava que o filme foi feito com sinceridade e dedicação, sem intenções comerciais ou enganosas. Ele se dedicou inteiramente à produção, trabalhando até vinte horas por dia. Inspirado no romanceiro popular nordestino, buscou exaltar a cultura brasileira, criando um filme com apelo popular e um tom alegre. Segundo ele, a tristeza não combinava com o espírito da obra. O cineasta também destacou a originalidade do filme, afirmando que não foi influenciado por outros diretores. Críticos renomados, como o diretor Fritz Lang e Alberto Cavalcanti, elogiaram a produção, destacando seu estilo autêntico e profundamente brasileiro.
A equipe do filme foi essencial para seu sucesso. Jonas destacou a contribuição de Lina Bó Bardi, responsável pela cenografia e grande conhecedora do Nordeste, e do pintor Francisco Brennand, que criou 116 quadros para a produção. O uso das cores foi um elemento crucial para transmitir a essência dos personagens e do ambiente. Jonas também elogiou Ariano Suassuna, a quem considerava um irmão, reconhecendo sua colaboração sem imposições na adaptação da obra original.
Com grandes expectativas para o sucesso comercial do filme, Jonas garantiu na época, sua distribuição na Europa. Ele acreditava que "A Compadecida" representava um marco no cinema brasileiro, sendo a primeira comédia épica do país. Segundo o diretor, na época, se o cinema nacional continuar a se reinventar com novas linguagens e valorização da cultura popular, ele poderá alcançar uma identidade artística autêntica e inovadora.
"A Compadecida" é uma comédia que aborda temas universais como fé, moralidade e justiça, através de personagens cativantes e situações inusitadas. Embora menos conhecida que adaptações posteriores, esta versão pioneira contribuiu para consolidar a importância de "Auto da Compadecida" na cultura brasileira e demonstrou a versatilidade da obra de Suassuna ao transitar do teatro para o cinema.
FONTES
https://web.archive.org/web/20150319225941/
http://www.jcom.com.br/pesquisahistorica/leitura/145455
https://cinema.uol.com.br/resenha/a-compadecida-1969.jhtm
http://bcc.cinemateca.org.br/search/node/compadecida
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