APARECIDA - A SAMBISTA ESQUECIDA

Aparecida, foi uma cantora e compositora brasileira que se destacou por sua voz marcante e pela forte ligação com a cultura afro-brasileira. Intérprete do sucesso "Tereza Aragão", presente em muitas coletâneas de Samba Rock produzidas nos anos 2000, teve sua trajetória musical ofuscada por esse único hit, apesar de uma discografia rica e relevante. Com álbuns lançados entre as décadas de 1960 e 1980, suas músicas exaltavam a negritude e os terreiros, misturando samba com ritmos africanos. Apesar do pouco reconhecimento comercial, sua obra continua sendo um importante resgate da música e da cultura negra no Brasil.


Nascida Maria Aparecida Martins em Caxambu, Minas Gerais, em 1939, mudou-se ainda criança para o Rio de Janeiro, onde iniciou sua trajetória artística. Ao longo da carreira, Aparecida lançou diversos álbuns que evidenciam sua conexão com o samba e os ritmos africanos, contribuindo significativamente para a valorização da cultura negra no Brasil.

Aparecida começou sua vida profissional como passadeira no bairro de Vila Isabel, no Rio de Janeiro. Desde jovem, demonstrou interesse pela música, aprendendo ritmos africanos com os mais velhos de sua família. Na adolescência, iniciou suas primeiras composições e atuou como passista no grupo de Salvador Batista por uma década. Sua primeira experiência internacional ocorreu no início dos anos 1960, quando, ao participar do filme "Benito Sereno e o Navio Negreiro", ganhou uma viagem à França, onde apresentou suas músicas em uma boate local.

Em 1965, de volta ao Brasil, Aparecida venceu o Concurso de Música de Carnaval do IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro. No mesmo ano, seu samba "Zumbi, Zumbi" foi o vencedor do III Festival de Música de Favela, representando a comunidade da Cafúa, em Coelho Neto. Em 1968, tornou-se a segunda mulher, após Dona Ivone Lara, a vencer uma disputa de samba-enredo, com "A sonata das matas", para a escola de samba Caprichosos de Pilares.

Seu primeiro álbum solo foi lançado em 1966, destacando-se pela adaptação da canção folclórica "A Maria Começa a Beber", em que homenageia Clementina de Jesus. O disco inclui parcerias com Jair Paulo, como "Talundê", "Nanã Boroquê" e "Segredos do mar", além de composições próprias como "Meu São Benedito", "Inferno verde" e "Tereza Aragão", esta última uma homenagem à atriz e militante política Tereza Aragão.

Uma década depois, em 1976, Aparecida lançou o álbum "Foram 17 anos", considerado sua obra-prima. A faixa-título exalta sua trajetória de luta, e o disco apresenta canções como "Grongoiô, propoiô", "Lágrimas de Oxum" e "Diongo, mundiongo". Destaca-se também a música "Todo mundo é preto", que celebra a negritude e a ancestralidade africana. O álbum contou com a produção de Durval Ferreira e a participação de músicos renomados, como Hélcio Milito, Orlandivo e Sivuca.

Nos anos seguintes, Aparecida lançou os álbuns "Grandes sucessos" (1977), "Cantigas de fé" (1978), "13 de maio" (1979), "Os Deuses Afros" (1980) e "A rosa do mar" (1983). Em 1974, participou dos discos "Roda de Samba", interpretando canções como "Boa Noite", "Proteção" e "Rosas para Iansã", esta última com arranjos de João Donato e participação de músicos como Márcio Montarroyos e Victor Assis Brasil.

Aparecida faleceu em 1985, aos 45 anos. Apesar de sua significativa contribuição para a música brasileira, sua obra não alcançou grande sucesso comercial e permanece pouco conhecida. Atualmente, alguns de seus discos estão disponíveis nas principais plataformas de streaming. Seu legado como uma voz que exaltou os terreiros e a negritude merece ser redescoberto pelas novas gerações.

FONTES
https://pitayacultural.com.br/musica/aparecida-a-voz-dos-orixas/
https://amusicade.com/aparecida-1975-aparecida/
https://www.sescsp.org.br/editorial/aparecida-a-samba-negra/

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