Totalmente obscura por muitos anos, Cléo de Verberena desempenhou um papel essencial nos primórdios do cinema brasileiro: foi a primeira mulher a dirigir um filme no país. Como aconteceu em diversas partes do mundo, ela, assim como muitas outras mulheres, teve seu legado apagado, sendo redescoberta apenas recentemente. No entanto, ainda há necessidade de maior reconhecimento e mais homenagens por sua coragem em atuar como diretora em um meio predominantemente masculino.
Seu nome de batismo era Jacyra Martins da Silveira. Nascida em Amparo, mudou-se para a capital de São Paulo após a morte de seu pai. Foi lá que conheceu Cesar Melani, com quem se casou e teve um filho. Ambos compartilhavam uma paixão pelo cinema, que os motivou a produzir um filme, especialmente após Cesar receber uma herança. Com o dinheiro, fundaram a Épica Film e, em 1930, iniciaram a produção de O Mistério do Dominó Preto. Nesse período, o casal adotou os pseudônimos Cléo de Verberena e Laes Mac Reni.
Além de dirigir, Cléo também protagonizou o filme, que foi sua única atuação no cinema. A trama gira em torno do assassinato de Cleo, uma mulher casada, durante o Carnaval em São Paulo, enquanto usava a fantasia preta de Dominó, que oferecia completo anonimato. Cleo é envenenada a caminho de um encontro com seu amante por alguém também fantasiado de Dominó. Apesar de morta logo no início, ela reaparece em flashbacks que revelam suas relações com os outros personagens. A investigação do crime é conduzida por um ex-amante, e o anonimato da fantasia é um elemento central da narrativa.
Durante a produção do filme, diversos jornais e revistas destacaram o fato de ser dirigido por uma mulher. Em janeiro de 1931, o jornal A Gazeta publicou uma nota evidenciando essa "inovação" e destacou que, além de protagonizar, Cléo também dirigia o longa. Apesar disso, o texto mencionava que muitos haviam fracassado ao tentar dirigir um filme, insinuando um ceticismo velado. Já em 1930, a revista Cinearte publicou o artigo "A Primeira Diretora do Cinema Brasileiro", que fazia um resumo de sua vida e desafios na produção e direção do filme. O texto incluía elogios de pessoas que acompanharam seu trabalho nos estúdios da Épica Film.
Trecho da revista destacava:
"Estou apostando. Querem saber? Depois de O Mistério do Dominó Preto, Cleo Verberena será o nome que todos escreverão em suas carteiras. O nome que todos guardarão. A figura que enfeitará o sonho de muita gente. A mulher que reuniu a inteligência de uma direção com a beleza de uma interpretação fina e primorosa. Guardem bem este nome! Ela ainda será uma referência dentro desse ideal que já se realiza, tão lindamente, no Cinema Brasileiro!"
O filme estreou em 1931, em São Paulo e Curitiba, mas não alcançou grande sucesso. Sofreu com as dificuldades de distribuição nacional, em uma época em que os exibidores priorizavam filmes americanos mais populares em detrimento das produções nacionais. Isso resultou em prejuízos financeiros que acabaram arruinando a vida econômica do casal.
Após esse episódio, Cléo foi cogitada para protagonizar o filme Canção do Destino, que nunca chegou a ser produzido. Em 1931, assinou o roteiro do filme Casa de Caboclo.
Cesar Melani faleceu prematuramente, aos 31 anos. Cléo de Verberena faleceu em 1972, aos 63 anos. Com o passar do tempo, "O Mistério do Dominó Preto", tornou-se um filme perdido.
FONTES
https://www.mulheresdocinemabrasileiro.com.br/site/mulheres/visualiza/428/Cleo-de-Verberena/4
https://wfpp.columbia.edu/pioneer/cleo-de-verberena/
Recomendo também o livro Cleo de Verberena e o Mystério do Dominó Preto, escrito por Marcella Grecco. A obra traz mais detalhes e informações sobre Cléo e a produção do filme. Clique na imagem para ser levado ao site da editora.
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