A PRESENÇA E CONTRIBUIÇÃO FEMININA NO CINEMA MUDO

Mabel Normand

Quando o cinema surgiu, homens e mulheres trabalhavam harmoniosamente, produzindo, dirigindo, atuando em filmes e em busca de melhorias técnicas tanto para a produção quanto para a gravação e exibição de filmes. Quando o cinema tornou-se lucrativo, os homens passaram a administrar toda a parte criativa e administrativa e as mulheres aos poucos foram deixadas de lado, contribuindo apenas na atuação ou em cargos considerados "femininos" pelos homens, como figurino e maquiagem. Algumas ainda trabalharam na elaboração de roteiros e na edição de filmes, mas esses cargos não possuíam tanta visibilidade na época. 

Com o passar do tempo, diversas mulheres que contribuíram e trabalharam com afinco nos primórdios do cinema foram silenciadas, invisibilizadas e esquecidas. Nem mesmo nos livros sobre cinema, seus nomes eram destacados e a sensação passada era que o cinema sempre foi um negócio para homens. Nos últimos anos e nas últimas décadas, diversas mulheres que colaboraram de diversas formas para a evolução do cinema tiveram seus nomes e legados recuperados, e hoje, podemos ver o quão brilhantes elas eram e imaginar que, se não fossem boicotadas pelos homens, teriam contribuído muito mais para a história e evolução do cinema.

Alice Guy, considerada a mãe do cinema, foi a primeira mulher a dirigir um filme e colaborou de muitas formas no princípio do cinema. Seu primeiro filme, "A Fada do Repolho", de 1896, é considerado o primeiro filme com narrativa do cinema. Até então, eram produzidos curtas documentais sobre costumes, eventos sociais ou acontecimentos, sem nenhum tipo de roteiro. Em 1906, filmou "A Vida de Cristo", considerada a primeira grande produção do cinema, contando com cerca de 300 figurantes. Fundou, ao lado do marido Herbert Blaché, a produtora Solax. Foi pioneira em diversas técnicas: edição, colorização de negativos, sobreposições, sonorização e também foi uma das poucas cineastas que faziam questão de usar atores negros em suas produções, ao invés de apelar para o famigerado blackface.

Após Alice Guy tornar-se a pioneira na direção, diversas mulheres também se arriscaram no ofício, mas muitas delas foram esquecidas. Ebba Lindkvist foi a primeira mulher a dirigir filmes na Suécia e a segunda mulher a dirigir filmes no cinema. Luise Fleck, diretora austríaca, já realizava em 1913 filmes com críticas sociais, focando nas diferenças entre as classes ricas e pobres. Na Itália, Elvira Notari produzia filmes falando sobre a mulher e seus desejos e enfrentou a ira da censura no país e nos Estados Unidos, quando seus filmes passaram a ser distribuídos para os americanos.

Helen Gardner foi atriz, produtora, diretora, entre outras funções. É considerada a primeira mulher a produzir filmes sem a ajuda de um homem. Naquela época, as mulheres em geral produziam filmes em parceria com o marido para trazerem credibilidade e respeito. Cleo Madison é considerada uma das mais importantes diretoras do estúdio Universal, mesmo possuindo uma carreira curta nessa posição.

Lois Weber é, sem dúvidas, o nome mais famoso na direção de filmes, após o de Alice Guy. É considerada uma pioneira na produção de filmes com críticas sociais. Seus filmes atraíam o público para o cinema e, mesmo tratando de assuntos espinhosos, faziam muito sucesso, ao invés de espantar as pessoas. Em 1913, ao lado do marido Phillips Smalley, produziu "Suspense", um curta que revolucionou na época por trazer divisões na tela, algo inédito até então. Além de produzir e dirigir, ela também atuou no curta. Foi pioneira ao abordar o uso de drogas, prostituição, aborto, métodos contraceptivos e o papel da mulher na sociedade em suas produções. É considerada a cineasta feminina mais importante do cinema mudo.

Mabel Normand é outro nome importante desse período, considerada a pioneira na execução de comédias. É também responsável pelo início de carreira de Chaplin. No auge de sua carreira, chegou a fundar sua própria produtora de filmes, além de um estúdio.

Diversas mulheres, de diversos países, também contribuíram para o cinema mudo: Xie Caizhen foi a primeira mulher a dirigir filmes na China. Mimí Derba foi a primeira mulher a dirigir filmes no México. Gabriela von Bussenius é considerada a primeira diretora chilena. Esther Eng foi a primeira mulher a dirigir filmes em chinês nos Estados Unidos. No Brasil, Cléo de Verberena tornou-se a primeira mulher a dirigir filmes, com "O Mistério do Dominó Preto". No mesmo período, Carmen Santos produzia boa parte dos filmes em que atuava, mas só dirigiria um filme anos depois.

Além de direção, produção e administração, diversas mulheres estavam presentes em outros campos: Margery Ordway e Francelia Billington foram pioneiras na operação de câmeras. Blanche Sewell foi uma das principais editoras de filmes dos estúdios MGM, começando sua carreira ainda no cinema mudo. Anita Loos é considerada uma das melhores roteiristas de seu tempo, sendo também a primeira mulher registrada em um estúdio nesse ofício. Natacha Rambova foi uma importante figurinista de filmes mudos; seu trabalho com Nazimova é um dos pontos altos de sua carreira. Além de dirigir filmes, Esfir Shub tornou-se conhecida por sua habilidade na produção de documentários e na montagem e edição de filmes.

Atrizes como Mary Pickford, Gloria Swanson, Norma Talmadge, Asta Nielsen, Fern Andra, entre outras, possuíam liberdade artística para produzirem seus filmes e algumas chegaram a abrir produtoras.

Com a transição dos filmes mudos para os sonoros, a participação feminina na produção de filmes caiu drasticamente. A única sobrevivente em Hollywood nesse período foi Dorothy Arzner, que havia começado sua carreira ainda na fase silenciosa, mas não teria vida longa nessa nova fase devido à pressão de donos de estúdios incomodados com sua presença. Desencorajada, largou a direção de filmes no início da década de 40.


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