Na história do cinema e da preservação dos filmes, o incêndio ocorrido nos cofres de arquivos do estúdio Fox, em 1937, é o capítulo mais triste. Diversos filmes foram consumidos pelo fogo. Alguns foram resgatados graças as cópias distribuídas ao redor do mundo. Outros se perderam para sempre, pois a única cópia disponível estava guardada ali. Após esse incêndio, preservar e copiar filmes passou a ser uma das prioridades dos estúdios, mas isso não impediu, anos depois, que a MGM sofresse um incêndio e perdesse filmes que possuíam apenas o negativo original.
O material dos negativos dos filmes era composto de nitrocelulose, mais conhecido como nitrato, um elemento altamente inflamável, capaz de entrar em autocombustão. Ele pode queimar até mesmo embaixo d'água. Foi justamente uma autocombustão em um negativo, que gerou o incêndio ocorrido em 9 de julho de 1937. O nitrato queima facilmente quando exposto a altas temperaturas e se armazenado em locais com pouca ventilação. E boa parte dos arquivos de filmes possuíam esses fatores.
O cofre da Fox, era até então a maior instalação de armazenamento do estúdio, contando em seu interior com cerca de 40 mil rolos de filmes produzidos desde o início do estúdio até a década de 20. O cofre abrigava filmes produzidos por outros estúdios.
O incêndio foi notado às 2 da manhã, por um caminhoneiro, que acionou os bombeiros que chegaram minutos depois. O prédio encontrava-se consumido pelas chamas e com explosões internas e o fogo acabou se alastrando para os vizinhos. Com cerca de 150 bombeiros trabalhando, o incêndio só foi contido às 5 da manhã. Três pessoas se feriram, uma mãe e seus dois filhos, um deles acabou morrendo devido à gravidade das queimaduras.
Após o incêndio, os executivos da Fox tentaram minimizar o impacto, dizendo que apenas "filmes muito antigos" haviam sido perdidos, mas que boa parte deles seriam recuperados em arquivos localizados em outros lugares. A verdade não era bem essa, nem os executivos sabiam que o cofre abrigava cópias únicas e que elas jamais seriam recuperadas. Com este incêndio, a Fox perdeu 75% de todos os filmes produzidos antes de 1930. Com o decorrer do tempo, diversos filmes foram resgatados pelo mundo. Alguns completamente, outros com trechos faltantes e boa parte em negativos de qualidade inferior.
Hoje, muitos historiadores de cinema, consideram esse incêndio o mais trágico em questões de acervamento. Theda Bara, uma das principais estrelas da Fox, teve a maioria de seus filmes mais famosos perdidos. Os que sobreviveram, não fazem muita justiça à alcunha de "Vamp" que ela adquiriu nos áureos tempos do cinema mudo. Valeska Suratt, havia feito filmes apenas no estúdio e todos eles foram perdidos, impossibilitando que as gerações futuras conhecessem seu estilo de atuação. Shirley Mason, também teve todos os seus filmes estrelados no estúdio perdidos.
A cópia original de "Horizonte Sombrio" (Way Down East), produzido por Griffith e comprado pela Fox na intenção de produzir um remake, foi perdida no incêndio. O ator de faroestes Tom Mix, foi outro ator que teve sua carreira consumida no incêndio: dos mais de 80 filmes estrelados por ele, apenas 12 sobreviveram. Dos filmes mudos dirigidos por John Ford no estúdio, apenas 10 sobreviveram. O negativo original de "Aurora" (Sunrise) também foi perdido. Foram perdidos também os primeiros filmes sonoros do estúdio, produzidos entre 1928 e 1929. O remake americano de Fantômas, produzido entre 1920 e 1921 em 20 capítulos, também foi perdido.
Após a catástrofe desse incêndio, os estúdios passaram a tomar um cuidado maior com o acervo de seus filmes, investindo em melhores condições de armazenamento. Anos depois o filme de nitrato foi substituído por um filme de triacetato de celulose, um material mais seguro.
FONTES
https://www.democraticunderground.com/12705882
https://cinematographomania.wordpress.com/the-infamous-fox-vault-fire/
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