Estrelado por Irene Dunne e Charles Boyer, "Duas Vidas" (Love Affair), é um dos primeiros clássicos do cinema romântico de Hollywood, embora tenha sido por anos suplantado pelo remake "Tarde Demais para Esquecer" (An Affair to Remember). Nos últimos anos, graças à uma restauração recente, o público pôde redescobrir esse clássico que nada deve ao famoso remake.
Em uma viagem de navio, o pintor Michel (Charles Boyer) e a cantora Terry (Irene Dunne) se apaixonam, porém, ambos estão comprometidos. Eles então fazem um pacto de se reencontrarem seis meses depois. Durante esse tempo eles combinam de desfazerem seus compromissos e de arrumarem suas vidas para ficarem juntos. Porém, no dia do encontro, uma tragédia ocorre. Tempos depois, o mesmo destino que os separou, trata de juntá-los novamente frente a frente.
Dirigido por Leo McCarey, responsável por grandes clássicos de Hollywood como: "O Bom Pastor" (Going My Way) e sua continuação "Os Sinos de Santa Maria" (The Bells of St. Mary's), além da grande comédia "Cupido é Moleque Teimoso" (The Awful Truth) e também à frente da regravação da história em 1957. Ele chegou a declarar que era a sua história de amor favorita e que ela sempre renderia uma ótima regravação. E foi o que aconteceu em 1957, mas não em 1994. A regravação da história em 1994, foi um grande fracasso de bilheteria, sendo o último filme de Katharine Hepburn.
Irene Dunne já havia trabalhado com o diretor em "Cupido é Moleque Teimoso" e na época era uma das atrizes mais queridas do público e considerada uma das mais versáteis. Ela estrelou diversos melodramas no início da década de 30, até se aventurar em comédias em "Os Pecados de Theodora" (Theodora's Goes Wild), de 1936, recebendo uma indicação ao Oscar por esse papel. No ano seguinte, em "Cupido é Moleque Teimoso", recebe mais uma indicação ao Oscar novamente por uma comédia.
"Duas Vidas" marca também o primeiro de três encontros entre Charles Boyer e Irene Dunne. A dupla fez os filmes "Noite de Pecado" (When Tomorrow Comes) e "E O Amor Voltou" (Together Again), um drama e uma comédia respectivamente. A química entre ambos foi bastante elogiada. Irene Dunne era uma atriz de classe e sempre conseguia entrosar-se com seu parceiro de cena. Mesmo sendo um filme dramático, McCarey abusou de diversas cenas improvisadas, o que não era surpresa alguma para Dunne que já havia testado esse método do diretor anteriormente. Para Boyer foi uma novidade, mas ele conseguiu entrar no espírito do que o diretor propôs.
A história do filme, centrada em um adultério, encontrou diversos problemas com o Código de Censura liderado por Joseph Breen. Eles não acreditavam na redenção dos personagens e solicitaram diversas mudanças. Essas mudanças, principalmente no destino de Terry, acabaram mais ajudando do que prejudicando o filme, fazendo com que o público se solidarizasse com o drama do casal principal. O filme trouxe um grande prestígio para McCarey que até então era conhecido como um diretor de comédias. Ele mostrou sua versatilidade e habilidade e graças a isso, somado com o esforço dos atores e da equipe técnica, o filme tornou-se um dos grandes sucessos de 1939, chegando a receber 6 indicações ao Oscar entre elas: de Melhor Atriz e Melhor Atriz Coadjuvante.
Com o lançamento do remake em 1957, sendo um sucesso, "Duas Vidas" acabou entrando em esquecimento. Outro fator que contribuiu para este esquecimento foi a disponibilidade de cópias com baixa qualidade de imagem, fazendo com que o público não tivesse interesse em vê-lo. Em 2020 passou por uma rigorosa e trabalhosa restauração que trouxe justiça a diversos aspectos técnicos do filme, entre eles a sua melancólica fotografia.
"Duas Vidas" foi lançado pela primeira vez em versão restaurada aqui no Brasil em DVD pela Obras-Primas do Cinema, contando com minha curadoria. Clique na capa abaixo para conhecer ou comprar a edição:
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