Desde os primórdios do cinema, homens e mulheres se empenharam em trazer cores aos negativos: Alice Guy e Georges Méliès foram os pioneiros em colorização de negativos, trazendo filmes pintados à mão. Havia também os filmes tintados, onde os negativos eram mergulhados em tintas para dar o aspecto de cores em cenas noturnas, dramáticas ou com outra conotação. Outro processo de colorização notável era o Handschiegl que consistia em pintar determinados pontos do negativo, deixando o restante em monocromático, essa técnica era muito utilizada em cenas com fogo ou ouro. Todas as técnicas citadas, deixavam o filme com aspecto artificial, despertando nos profissionais a necessidade de encontrar um processo que trouxesse cores e ao mesmo tempo naturalidade aos filmes produzidos. Após anos de procura e experimentos, surgiu então o Technicolor, que causaria uma revolução nos filmes e no cinema. O que muitos não sabem é que havia uma mulher por trás de tudo isso, que testemunhou o nascimento e ajudou a popularizar o Technicolor no cinema. Seu nome era Natalie Kalmus.
Herbert e Natalie |
Em 1902, Natalie casou com Herbert Kalmus, eles fundaram dez anos depois a Technicolor Motion Picture Corporation. Em 1915, Herbert desenvolveu o processo de filmagem bicolor capturando as cores vermelho e verde. Em 1917, ocorreu a primeira filmagem em Technicolor e Natalie estava presente durante o processo. Logo, esse processo mostrou-se caro e impraticável e novamente Herbert, com Natalie ao seu lado, buscaram uma nova forma de filmar à cores. Em 1922 é realizado "Flor de Lótus" (The Toll of the Sea), segundo filme produzido em Technicolor e primeiro filme à cores em Hollywood, já com o aprimoramento da técnica. O processo torna-se bem-sucedido e filmes como "Os Dez Mandamentos" (The Ten Commandments), "O Rei dos Reis" (The King of Kings), "O Pirata Negro" (The Black Pirate), entre outros, seriam filmados em Technicolor de duas tiras.
Entre o final da década de 20 e início da década de 30, Herbert aperfeiçoa a técnica, possibilitando agora a filmagem em três tiras de cores (vermelho, verde e azul). Em 1935 é realizado "Vaidade e Beleza" (Becky Sharp), primeiro longa em Technicolor três faixas. O filme acaba fracassando em bilheteria e muitos atribuem o fracasso às cores saturadas apresentadas no filme. A rejeição ao novo processo de cores é temporária e logo depois filmes como "...E o Vento Levou" (Gone With the Wind) e "O Mágico de Oz" (The Wizard of Oz) são produzidos em Technicolor e tornam-se sucessos de crítica e bilheteria.
Com a ascensão dos filmes coloridos, Natalie tornaria-se a chefe executiva do departamento de arte da Technicolor, sendo a responsável pela produção dos filmes à cores realizados entre 1934 a 1949 e tendo seu nome creditado nessas produções como "diretora de cores Technicolor". Ela tornou-se experiente no uso de cores em filmagens e possuía fortes opiniões e por causa disso ela era detestada por diretores e produtores. Ela era a responsável pelas revisões de figurinos, cenários e iluminação, para que houvesse uma harmonia entre as cores durante a filmagem.
Em 1932, cria uma cartela de cores, onde explica a função de cada cor e como e quando ela deveria ser aplicada, direcionando o uso delas nas câmeras alugadas de sua empresa pelos estúdios. Essa cartela de cores seria publicada na revista Photoplay no mesmo ano, com o intuito do público ter acesso a essas informações e entender o uso das cores nos filmes, em busca de harmonia visual.
O trabalho de Natalie na Technicolor findou-se em 1948, após Herbert anunciar um novo casamento e ela não conseguir mais ser respeitada dentro dos estúdios. O casal havia se divorciado secretamente anos antes e viviam um casamento de aparências, mas trabalhando harmoniosamente durante mais de 20 anos. Em 1951, ela licenciou seu nome para uma linha de gabinetes de televisão. Ela faleceu em 15 de novembro de 1965. Salientando que o criador do Technicolor foi Herbert, mas de forma alguma Natalie merece ser diminuída ou menosprezada. Com toda certeza ela esteve ao lado dele apoiando e dando opiniões e ela teve sua importância ao trabalhar como diretora de cores em Hollywood.
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