Produzido durante o Pre-Code, "Assim Amam as Mulheres" (Christopher Strong), é um filme ousado, mas que destoa dos outros produzidos nesse período. O filme traz como protagonista uma aviadora, aborda de duas formas casos extraconjugais, conduz a rivalidade feminina de uma outra maneira e por fim questiona os valores morais versus a liberdade de ser quem é. Lançado em 1933 e dirigido por Dorothy Arzner, o filme foi baseado em um romance homônimo publicado um ano antes. Este seria o segundo filme de Katharine Hepburn e o primeiro como protagonista. Além de Hepburn, o filme conta com Colin Clive e Billie Burke nos papéis principais.
Em "Assim Amam as Mulheres", Katharine Hepburn, interpreta Cynthia, uma famosa aviadora sempre em busca de desafios. Em seu caminho aparece Christopher (Colin Clive), um homem antiquado e totalmente seu oposto. Cynthia é uma mulher moderna, segura e ao mesmo tempo solitária, nunca se apaixonou e encarava o amor como a ruína de sua carreira. Christopher vive um casamento comum com Elaine (Billie Burke). Após se conhecerem em uma festa, Cynthia e Christopher se aproximam e se apaixonam. Ao mesmo tempo Cynthia torna-se amiga de Monica (Helen Chandler).
Monica possui um relacionamento com um homem casado e tal relacionamento é de conhecimento geral e conta com a reprovação de seus pais. Ela também é uma mulher de espírito livre e independente. Após pressões de seus pais, o homem consegue o divórcio e eles se casam. Enquanto isso Cynthia e Christopher vivem um romance agridoce, onde ele de certa forma quer que ela pare de pilotar aviões, mas ela não se imagina como uma dona de casa. Cynthia acaba cedendo às vontades de Christopher, mas percebe que apenas ela está fazendo sacrifícios, enquanto ele continua com sua vida confortável de homem casado e com família.
As coisas pioram quando a filha de Christopher descobre a infidelidade do pai e questiona Cynthia. Cynthia faz questão de lembrar Monica de que ela também havia se envolvido com um homem casado no passado, mesmo estando agora casada com ele. A relação das amigas entra em atrito e elas se afastam. Elaine ciente de toda traição, tenta manter um clima suportável no casamento, às vezes fazendo-se de cega e tentando manter um clima amigável com Cynthia. Quando Cynthia descobre estar grávida de Christopher, ela passa a questionar seus valores e pensar como será seu futuro, até decidir tomar uma decisão trágica.
O filme é muito moderno para a época em que foi produzido, por trazer como protagonista uma mulher aviadora, com uma carreira ativa, independente e solitária, algo até então nunca visto em um filme Pre-Code. Outro ponto moderno é trazer a infidelidade como tema principal e abordar de forma tranquila, mas lúcida e sem julgar nenhuma parte. Interessante também por trazer um personagem masculino sensível, inseguro e longe dos estereótipos de conquistador e viril.
Outro fator foi humanizar os personagens, principalmente as mulheres, sem apelar para as rivalidades recheadas de tapas e brigas bastante presentes nos filmes da época. As amantes nos filmes Pre-Code eram sempre sexualizadas, marginalizadas e vilanizadas e isso não está presente no filme, talvez pela condução de Dorothy Arzner, que sabia como as coisas funcionavam e como as mulheres eram tratadas. Um ponto que pode gerar discussão hoje em dia é o papel da mulher no casamento sob a ótica da personagem Elaine, que era submissa e evitava enfrentar a infidelidade do marido.
O final do filme que ao meu ver não é nada moralista (embora possa passar essa mensagem), mas muito ousado e transgressor, visto que anos depois com a censura em Hollywood ele jamais poderia ser realizado daquela forma. Embora o título original do filme seja "Christopher Strong" e o personagem masculino ter sua importância, o destaque do filme fica por conta das mulheres.
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