Se você quiser saber se um filme antigo
(curta ou longa) é realmente um clássico, basta ver como ele sobreviveu durante
os anos. Se ele continua sendo um filme agradável, sensível e até mesmo
moderno, pode-se dizer com toda certeza que ele tornou-se um clássico. “Viagem
à Lua”, produzido em 1902 por Georges Méliés é um desses exemplos de filmes que
se tornaram clássicos e essenciais para as novas gerações que apreciam e
valorizam o cinema e sua história.
“Viagem à Lua” foi baseado em três livros: “Da Terra à Lua” e “Ao Redor da Lua” de Júlio Verne e “O Primeiro Homem na Lua” de H. G. Wells. Tanto Verne, quanto G. Wells, tornaram-se conhecidos por escreverem obras de ficção científica. Possui um grande valor, por ser considerada a primeira obra de ficção científica cinematográfica, além de ser a primeira obra a trazer alienígenas em seu enredo. Méliés que além de cineasta era também ilusionista, fez uso de diversos recursos até então inéditos de animação e efeitos especiais. Foi auxiliado por seu irmão Gaston. Além de contribuir com a direção e a produção, Méliès também foi o responsável pelo roteiro.
Mesmo com uma duração em torno de 12 a 14 minutos, foi o projeto mais longo e mais caro feito por Méliès. No início do cinema, era comum os filmes terem uma duração bastante curta, por diversos fatores: desde a precariedade das produções, passando pelo baixo orçamento e terminando na limitação da tecnologia disponível de captação de imagens. O cenário operado mecanicamente e as roupas confeccionadas em papelão e tela, foram os itens mais caros de toda a produção do curta.
Muitos dos efeitos presentes em “Viagem à Lua”, consistem no uso de emenda de substituição, um truque que era utilizado para mostrar uma transformação ou um desaparecimento. Esse truque era na realidade uma emenda de dois negativos diferentes, mas com o mesmo plano de imagem e cada um deles com uma alteração. O corte era feito de forma bastante cuidadosa e um efeito era adicionado na transição dos negativos. Esse efeito passou a ser conhecido como Stop-Trick e foi bastante popularizado por Méliès em seus projetos.
Méliès foi um dos cineastas que popularizaram os negativos coloridos manualmente. Boa parte de seus projetos contavam com a versão original em preto e branco e com a versão colorizada. A colorização de “Viagem á Lua”, foi comandada por Élisabeth Thuillier, pioneira nesse segmento. Élisabeth possuía seu próprio estúdio de colorização. A versão colorizada foi considerada por anos como perdida, até ser encontrada uma cópia bastante deteriorada em Barcelona, em 1993. O processo de remontagem dos fragmentos e a restauração quadro por quadro durou cerca de um ano. Uma cópia original em preto e branco e uma duplicata, foram usadas para esta restauração. A versão colorizada e restaurada, foi exibida pela primeira vez em 2011. Ainda não se sabe se essa cópia foi realmente colorizada por Élisabeth e seu estúdio.
Méliès sabia que estava produzindo algo grandioso e ambicionava o maior alcance possível de pessoas por esse trabalho. Ele então planejou produzir cópias e distribuir pelo mundo, para que pudesse reaver os gastos de produção, como também lucrar, porém nessa época não existiam leis que protegessem os criadores de conteúdo ou leis de direitos autorais. Diversas produtoras de cinema, como a de Thomas Edison por exemplo, piratearam a obra de Méliés e distribuíram pelo mundo, ganhando dinheiro em cima do trabalho dele.
A maioria dos filmes de Méliés foram perdidos ou esquecidos, após ele entrar em declínio financeiro e profissional. Em 1917, a maioria de seus filmes que possuíam nitrato de prata nos negativos, foram derretidos por militares franceses. Em 1923, com a demolição do Teatro Robert-Houdin, as cópias que ali estavam, foram vendidas para um vendedor de filmes usados. No mesmo ano, em um ataque de fúria, Méliés destrói boa parte dos negativos que estavam em sua posse. “Viagem à Lua”, Méliès e sua obra seriam esquecidos por alguns anos. Méliès que havia sido um dos pais do cinema, passa a vender doces e brinquedos em Paris.
No final da década de 20, um movimento de entusiastas do cinema liderado por René Clair, decide reavivar a obra e legado de Méliès. Em 1929 ele foi homenageado com um baile de Gala. Em 1931 ele foi premiado com a Legião de Honra. Graças ao reavimento de Méliès e sua obra, diversos entusiastas de cinema, partiram em busca de uma cópia de “Viagem à Lua”, que até aquele momento era considerado perdido. Em outubro de 1929 uma cópia foi encontrada em Paris. Em 1930, outra cópia foi encontrada em Londres. Ambas incompletas. Uma versão completa do curta, foi remontada em 1997, a partir de diversas cópias disponíveis.
Méliès faleceu em 21 de janeiro de 1938, aos 76 anos, tendo um vislumbre das pessoas reconhecendo sua obra e sua importância para o cinema. O que talvez ele jamais pudesse imaginar é que “Viagem à Lua” tornaria-se uma obra de arte e um dos projetos mais importantes da história do cinema, influenciando diversos cineastas e sendo considerado o filme responsável pelo nascimento do gênero de ficção científica. Hoje, mais de 100 anos após sua criação e lançamento, “Viagem à Lua”, continua sendo um dos maiores espetáculos já proporcionados pelo cinema.
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