"Um clássico é um clássico", já diria o dito popular, mas muitos filmes clássicos atingiram um patamar acima graças as brigas em seus bastidores. Essas brigas muitas vezes eram incentivadas pelo próprio diretor, em busca de um resultado superior nas cenas, pelo próprio estúdio visando polêmica e lucros de bilheteria, além é claro, da própria imprensa, a principal protagonista de todo esse esquema. Não coloquei aqui Bette Davis X Joan Crawford, pois é um assunto bastante comentado e preferi trazer uma briga mais obscura.
Bette Davis x Miriam Hopkins
Se teve uma mulher que brigou bastante em Hollywood, essa mulher foi Bette Davis. Como as mulheres na indústria do cinema era subestimadas, Bette Davis para impôr-se criou uma figura dura de si. Ela enfrentava qualquer um, até mesmo Jack Warner, o chefe da Warner. Uma de suas brigas de bastidores mais famosas, além de Joan Crawford, foi com Miriam Hopkins. As duas se conheciam há muito tempo e sempre tiveram uma relação tumultuada. A cordialidade acabou de vez, quando Miriam suspeitou que Bette estaria tendo um caso com o então seu marido, o diretor Anatole Litvak. A partir de então as duas viraram inimigas declaradas. Então um dia, Jack Warner teve a brilhante ideia de reunir as duas atrizes em "Eu Soube Amar" (The Old Maid). Um circo midiático foi montado em torno da situação, trazendo inclusive as duas atrizes usando luvas de boxe em fotos promocionais do filme. A divulgação deu certo e o filme foi um sucesso. Anos depois elas fariam mais um filme juntas: "Uma Velha Amizade" (Old Acquaintance) e novamente tanto o estúdio, quanto a imprensa colocaram pressão em cima das duas atrizes. E elas novamente voltaram a brigar. Miriam queria o nome no topo e o maior faturamento, mas acabou perdendo essa batalha. Para se vingar, dificultou ao máximo a produção do filme. O sensacionalismo foi tanto que pessoas de outros filmes produzidos no estúdio iam para o set de gravação de "Uma Velha Amizade", para presenciarem alguma briga entre as duas.
Cary Grant x Joan Fontaine
Após atingir o estrelato, Cary Grant tornou-se um ator de diversas exigências e uma delas era ter seu nome sempre no topo dos créditos e tratamento de astro. Em "Suspeita" (Suspicion), ele divide o protagonismo com Joan Fontaine e os dois são dirigidos por Alfred Hitchcock. Hitchcock anteriormente, havia permitido que Laurence Olivier tivesse um tratamento abusivo com Joan Fontaine durante as gravações de "Rebecca", tudo em nome do resultado final. Arrependido e sabendo que estava errado, o diretor decidiu tratar Joan Fontaine como uma estrela e isso despertou ciúmes em um vaidoso Cary Grant. Em sua biografia, é citado que os dois atores deram-se super bem no início das gravações, mas por causa do tratamento de estrela dado à Joan Fontaine, Cary tornou-se frio e distante com ela. As coisas pioraram quando Fontaine ganhou um Oscar na categoria de melhor atriz, enquanto ele sequer foi indicado. Ele passou o resto de sua vida evitando-a.
Sylvia Sidney x Fritz Lang / Sylvia Sidney x Alfred Hitchcock
Hollywood. Década de 30. Se você fosse mulher e atriz e possuísse opiniões fortes, você era considerada uma "pessoa difícil de trabalhar". Assim era denominada Sylvia Sidney, uma das atrizes mais populares dessa década em Hollywood. Ela acreditava que a função do ator não era apenas desempenhar uma performance na frente das câmeras, mas sim discutir junto ao diretor elementos sobre os personagens. Lógico que diretores como Fritz Lang e Alfred Hitchcock não pensavam dessa forma. Inclusive, o segundo já chegou a comparar atores a gados. Então, Sylvia Ssdney teve bastante desafios ao trabalhar com Fritz Lang três vezes em: "Fúria" (Fury), "Vive-se Uma só Vez" (You Only Live Once) e "Casamento Proibido" (You and Me) e uma vez com Hitchcock em: "O Marido era o Culpado" (Sabotage). Ela brigou com vários outros diretores como Josef von Sternberg e William Wyler.
Laurence Olivier x Joan Fontaine / Laurence Olivier x Merle Oberon / Laurence Olivier x Marilyn Monroe
Laurence Olivier foi um dos maiores atores de seu tempo. O seu temperamento era do tamanho do seu talento e ele brigou com diversas atrizes com quem contracenou. Muitas dessas brigas se deram pelo fato dessas atrizes serem escolhidas no lugar de Vivien Leigh para os papéis nos filmes. Foi assim com Joan Fontaine, pessoa que ele maltratou nos bastidores de "Rebecca" e Merle Oberon, com quem já havia trabalhado calmamente em "O Divórcio de Madame X" (The Divorce Of Lady X), mas tratou-a friamente por ter sido escolhida para "O Morro dos Ventos Uivantes" (Wuthering Heights), porém 20 anos depois, a relação entre os dois mostrou-se madura, quando Oberon sugeriu um projeto de filmagem de "Macbeth" e chamou Olivier. Ele ficou imensamente grato e lhe agradeceu por ter pensado nele, mas acabou recusando por estar com outros trabalhos. Ele havia tentado filmar "Macbeth" anteriormente e havia fracassado por falta de dinheiro. Sobre Marilyn, a briga ocorreu nos bastidores de "O Príncipe Encantado" (The Prince and the Showgirl). Inicialmente, Olivier encantou-se por Marilyn, tecendo elogios e dizendo que estava ansioso para trabalhar com ela. Quando as gravações começaram, suas percepções sobre Marilyn mudaram. Os constantes atrasos da atriz, contribuíram para o desgaste da relação profissional.
Ginger Rogers foi uma das maiores atrizes de Hollywood. Tornou-se famosa ao lado de Fred Astaire nos musicais, mas como era ambiciosa, queria ser mais que uma simples parceira de dança em filmes musicais. Foi então que ela passou a investir em sua carreira dramática, chegando a ganhar um Oscar. Logo, tornou-se uma atriz respeitada e saiu da sombra dos filmes musicais, porém ela era conhecida por não ser nada modesta sobre si mesma. Deu diversas declarações sempre colocando-se acima de outras atrizes. Ao contracenar com Katharine Hepburn em "No Teatro da Vida" (Stage Door), houve um choque de monstros entre as duas atrizes. A primeira briga veio pelo nome em destaque. Kate vinha de uma série de fracassos, enquanto Ginger tinha a seu favor o sucesso dos filmes com Fred Astaire. Outro fator foi o salário: após brigas, Ginger e Kate ganharam a mesma quantia. No trailer, o nome de Ginger vem em primeiro, enquanto no filme e nos pôsteres, o nome de Kate. Durante o meio das filmagens, o papel de Kate tornou-se maior que o de Ginger. A situação entre as duas piorou e o diretor, Gregory La Cava, usou isso a favor do filme. Há uma lenda urbana de que Kate chegou a jogar um balde d'água em Ginger, durante uma briga.
Marlene Dietrich x Fritz Lang
Marlene Dietrich foi uma das atrizes mais disciplinadas e pontuais do cinema e isso deve-se muito ao seu aprendizado com Josef von Sternberg. Ela foi elogiada por diversos diretores. Conseguiu a façanha de deixar Hitchcock encantado, quando uma vez ela conversou com ele sobre técnicas de iluminação nos bastidores de "Pavor nos Bastidores" (Stage Fright). Hitchcock viu ali que ela conhecia bastante sobre o assunto e respeitou seu ponto de vista. Uma raridade em sua carreira, já que ele não dava voz aos atores. A única pessoa que ela chegou a declarar publicamente que desprezava foi Fritz Lang, mas mesmo assim disse de forma elegante. Em sua autobiografia, Marlene disse que Lang desprezava a admiração da atriz por Sternberg e queria a todo custo ocupar o lugar dele. Possuía um estilo de trabalho que ela considerava sádico e atribui a Mel Ferrer o fato de não ter abandonado as gravações de "O Diabo Feito Mulher" (Rancho Notorious).
"Hello Dolly!" foi um filme cheio de conflitos. Barbra Streisand teve dificuldades em conviver com Walter Matthau, seu interesse amoroso no filme e com Gene Kelly, o diretor do filme, conhecido por ser bastante perfeccionista. Com Matthau, os desentendimentos se deram pelo fato de Streisand sempre pedir repetição de tomadas. Isso o irritou profundamente. Matthau que havia acabado de ganhar um Oscar, se ressentia pelo fato de Streisand ter um enorme destaque no filme. Chegou a queixar-se com a supervisão da Fox que lhe disse: "O filme é 'Hello Dolly!' e não 'Hello Walther". Outro fator que desencadeou a briga entre os protagonistas, foi o fato de Matthau não considerar Streisand uma atriz. Ele chegou a declarar que ela era apenas uma estrela e não uma atriz. Streisand chegou a chamá-lo de ''boca de esgoto'' e uma cena onde os dois deviam se beijar foi feita de uma maneira que passasse a impressão de que eles estavam se beijando, mas a realidade é que os lábios dos dois sequer tocaram-se.
Debbie Reynolds x Gene Kelly
Gene Kelly era um dos atores-dançarinos mais talentosos da Era de Ouro dos musicais. Era conhecido também por seu perfeccionismo e por sua dura rotina de ensaios. Em "Cantando na Chuva" (Singin 'in the Rain), Debbie Reynolds foi uma de suas vítimas. O número musical "Good Morning" foi um dos momentos mais torturantes para Debbie Reynolds. Após aproximadamente 15 horas de filmagens e repetições que lhe causaram ferimentos nos pés, Gene Kelly que também co-dirigiu o filme, escolheu a primeira tomada como a definitiva. Anos depois, ele mesmo reconheceu seu erro e chegou a declarar que não sabia como Debbie ainda falava com ele, após tudo o que ela passou. O marido de Cyd Charisse, Tony Martin uma vez declarou que sabia perfeitamente quando sua esposa estava fazendo um filme com Fred Astaire ou com Gene Kelly.
A rivalidade entre os astros de "Guys and Dolls", começou ainda na escalação do elenco: Marlon Brando ficou com o papel principal, enquanto Frank Sinatra, que cobiçava esse papel, por considerar-se apto, por ser cantor, ficou com o de coadjuvante. Os astros tiveram um relacionamento profissional bastante tumultuado, dividindo a equipe de produção. Anos depois, Sinatra declarou que Marlon não era apto para o papel principal e que o próprio sabia disso.
O que falar desse artigo?simplesmente maravilhoso assim como o blog inteiro
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