LOIS WEBER - A MAIS IMPORTANTE DIRETORA DO CINEMA MUDO

Embora Alice Guy-Blaché seja reconhecida como a mãe do cinema, inovando a narrativa cinematográfica, foi Lois Weber que recebeu a alcunha da mais importante diretora do cinema mudo. Ambas tiveram seus nomes apagados durante a evolução do cinema e só foram resgatadas nos últimos anos, quando suas obras foram redescobertas, restauradas e exibidas para o público. Hoje podemos ver a genialidade e reparar a injustiça que essas mulheres sofreram durante vários anos. Lois Weber foi tão bem sucedida em sua carreira, que chegou a ser comparada a D.W. Griffith, embora seu talento e genialidade não precisassem de comparações.

Além de diretora, Lois Weber foi também atriz, produtora e roteirista. Após uma carreira teatral como atriz, ela assinou um contrato com a Gaumont para trabalhar como cantora de canções para Cronofone (aparelho patenteado por Gaumont que sincronizava imagem e som, usado entre 1902 e 1910). Tempo depois, passou a escrever roteiros e a dirigir pequenos projetos para a Gaumont em Nova York. Seu marido Phillips Smalley, foi seu parceiro essencial em sua carreira, dirigindo com ela alguns filmes.

Em 1913, ao lado do marido, dirigiu "Suspense", curta que revolucionaria a linguagem cinematográfica. O casal fez uso de divisões na tela, algo até então inédito. Cada tela focava em um dos três personagens principais: a esposa, o marido e o invasor. Além de dirigir, Weber interpretou o papel da esposa.

Suspense

Em 1915 já contratada pela Universal, ela dirigiria "Hipócritas" (Hypocrites), considerada uma de suas obras-primas. O filme chocou por trazer uma mulher nua à narrativa, simbolizando a verdade que os personagens tentavam esconder. Essa não seria a primeira vez que Weber chamaria a atenção dos censores. No ano anterior alguns de seus projetos deixaram os sensores mais atentos aos seus trabalhos. "O Mercador de Veneza", dirigido por ela em 1914 é considerado o primeiro filme americano dirigido por uma mulher.

Hipócritas

Em 1916, dirige dois importantes trabalhos: "Shoes" e "Where Are My Children?". O primeiro aborda a história de uma garota que trabalha, mas é explorada pela família. Ela possui um único par de sapatos que vão aos poucos se deteriorando. Sem ter dinheiro para comprar um novo par de sapatos, já que sua família fica com todo o seu salário, ela não vê outra solução a não ser se prostituir. O filme gera uma tensão, pois a personagem reluta em tomar a decisão de dormir com um dos clientes da loja em que trabalha, mas ao mesmo tempo seus sapatos vão se deteriorando cada vez mais. Quando seus sapatos se tornam inapropriados para o uso, ela decide então se prostituir, pois sem os sapatos, ela não conseguirá trabalhar.

Shoes

"Where Are My Children?" é um controverso filme que fala sobre aborto e contracepção, além do papel de reprodutora que a mulher adquiriu com o patriarcado. Talvez esse último fator não tenha sido abordado de forma intencional, mas ele é bastante latente e é o ponto principal da história. O filme mostra a história de um casal onde o homem quer ter filhos, mas a mulher não. Por causa disso ela é vista como egoísta pela sociedade. O ponto interessante de debate sobre esse filme é como seria se fosse o contrário: a mulher querer filhos, mas o homem não. Será que o homem seria visto como egoísta?  É então que Weber sem querer traz a discussão sobre o papel da mulher como uma "entidade reprodutora" no patriarcado. O outro ponto deste filme é o aborto e os métodos contraceptivos. Mesmo condenando o aborto no filme, Weber faz uma crítica social sobre o privilégio do aborto para as mulheres ricas. Dois filmes com mais de cem anos, mas que continuam atuais e interessantíssimos. Além de "Shoes" e "Where Are My Children?", Weber dirige ao lado do marido os polêmicos "The People vs. John Doe", filme sobre pena de morte e "Hop, the Devil's Brew", sobre o uso de drogas.

Where Are My Children?

Lois Weber torna-se em 1917, a primeira diretora a fundar um estúdio americano: o Lois Weber Productions, fundado com a ajuda da Universal. Nessa época, Weber já era considerada o lado dominante da parceria com o marido e o casamento começou a deteriorar-se por isso. No mesmo ano, ela se tornaria a primeira mulher a ser membro do Motion Picture Directors Association. O casal divorciou-se em 1922.

Em 1921, dirige três importantes filmes: "Esposas Muito Sábias" (Too Wise Wives), "O que os Homens querem?" (What Do Men Want?) e "A Mancha" (The Blot). Os dois primeiros são centrados sobre casamento, valores morais, felicidade e fidelidade, enquanto o último é uma crítica social sobre pobreza e classes sociais. Em 1927, contratada por DeMille, dirige seu último filme mudo "The Angel of Broadway", um fracasso comercial. No mesmo ano em uma entrevista, ela aconselharia as mulheres a não ingressarem no cinema.

Após o fracasso de "The Angel of Broadway", ela decide se afastar temporariamente. Em uma entrevista, quando foi questionada sobre o seu retorno, ela respondeu: "Quando eu encontrar um produtor que pense que eu tenho inteligência suficiente para ser deixada em paz e seguir em frente com meus projetos.". Essa declaração dava a entender que ela já estava sendo sabotada em Hollywood, situação que ocorreria com diversas mulheres em cargos de liderança no final da década de 20.

The Angel of Broadway

Após ser contratada pela United Artists em 1932, para trabalhar como roteirista, retornar à Universal em 1933, agora como uma caçadora de talentos e perder a direção de um filme para William Wyler, ela dirigiria seu primeiro filme sonoro e seu filme final: "White Heat", filme sobre um homem que mora em uma ilha e que possui preconceito contra relacionamentos inter-raciais, mas ironicamente vive um relacionamento com uma nativa, mas no final casa-se com uma moça branca. Esse filme é considerado perdido.

Quando morreu, em 13 de novembro de 1939, aos 60 anos, Lois Weber que tanto contribuiu para a história do cinema, inovando em diversos aspectos, já havia sido esquecida. Sua morte foi anunciada em discretas linhas e seu legado totalmente minimizado. Seu funeral foi pago por Frances Marion, atriz que lhe ajudou nos últimos anos de carreira. Hedda Hopper foi a única colunista que lhe prestou uma homenagem decente.


A obra e legado de Weber amagaram um profundo esquecido até a década de 60, quanto a diretora ganhou uma estrela na calçada da fama e durante a década de 70, quando foi redescoberta por historiadores de cinema. Após isso, novamente sua obra e legado entraram em esquecimento. Seu nome seria redescoberto nos últimos anos após uma revolução feminista na indústria cinematográfica, que resgatou diversos nomes responsáveis pelo pioneirismo feminino no cinema.


Alguns recortes de época.
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