Desde o início do cinema, os estúdios obtinham forte influência sobre os atores e atrizes, tanto dentro, quanto fora de suas dependências. Muitas vezes os estúdios escolhiam com quem os astros e estrelas poderiam andar e se relacionar, o que vestir e o que falar em público. E como não poderia ser diferente, os estúdios criavam a imagem de seus contratados através dos papéis que interpretavam. E tanto os atores quanto as atrizes não podiam contestar. Havia uma cláusula que garantia esse poder aos estúdios. E foi assim por um bom tempo, até que um dia, Olivia de Havilland se cansou dos papéis de mocinha que interpretava em excesso e comprou uma briga com Jack Warner.
O descontentamento de Olivia com os papéis que lhe eram impostos, já vinha desde antes de sua participação em "..E o Vento Levou" (Gone With the Wind). Ela não podia recusar os papéis, pois havia uma cláusula que punia o ator com suspensão. Mesmo Melanie sendo uma mocinha doce, como as personagens que Olivia interpretava nos filmes da Warner, havia um abismo enorme entre as duas partes e após "...E o Vento Levou", Olivia estava ansiosa por papéis mais desafiadores, mas não era fácil driblar Jack Warner. Sua amiga Bette Davis havia tentado e falhado miseravelmente. A lei estava ao lado dos donos de estúdio. Nesse período, ela só teve papéis desafiadores ao ser emprestada para a MGM para fazer "... E o Vento Levou" e para a Paramount, o filme "A Porta de Ouro" (Hold Back the Dawn). Nas duas ocasiões ela foi indicada ao Oscar, nas categorias de Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Atriz respectivamente.
Em 1943, seu contrato de 7 anos chegaria ao fim, mas a Warner lhe disse que ela não estava livre ainda, pois devia 6 meses adicionais que eram referentes a uma suspensão por ter recusado a atuar em alguns filmes. Olivia então, entrou com um processo contra o estúdio, alegando que o estúdio estava ferindo os direitos trabalhistas. Foi uma atitude corajosa já que ela era uma estrela em ascensão e se ela perdesse o processo sua carreira se findaria ali.
O argumento para o processo se baseava que o contrato firmado pelo estúdio era de apenas 7 anos e que as suspensões não poderiam ser contabilizadas e compensadas depois. Olivia ganhou o primeiro julgamento, mas a Warner recorreu. Finalmente o juiz reconheceu que o contrato que Olivia possuía com a Warner beirava a um contrato de escravidão e deu causa ganha à atriz. A partir de então, os estúdios perderam o poder de obrigar os atores e atrizes contratados a aceitarem papéis que não lhe eram apropriados. Essa revolução recebeu o nome de "lei de Havilland", garantindo aos atores e atrizes proteção e liberdade artística. Foi nesse período que começou a popularizar-se os trabalhos freelancer em Hollywood, onde os atores e atrizes não se sentiam na obrigação de assinar um contrato exclusivo com determinado estúdio.
Não satisfeito por ter perdido o processo, Jack Warner iniciou uma perseguição contra sua ex-contratada: ele tentou fazer com que os estúdios rivais não a contratassem, além de ter segurado o último filme estrelado por ela: "Devoção". O filme foi gravado entre 1942 e 1943 e só foi exibido em 1946. Na época das filmagens, seu nome viria em primeiro lugar. Quando foi lançado, seu nome havia sido rebaixado para a terceira posição, uma nítida vingança de Jack Warner, por não ter conseguido destruir sua ex-contratada. Ele jurou que ela nunca mais estrelaria um filme de sua companhia e assim o foi. Após toda a repercussão causada, a carreira de Olivia tornou-se bem mais sucedida após sua saída da Warner. Ainda na década de 40, ela receberia dois Oscars por "Só Resta uma Lágrima" (To Each His Own) e "Tarde Demais' (The Heiress), provando que estava certa ao bater de frente com o estúdio, em busca de papéis melhores e desafiadores.
“Eu sabia que tinha um público, que as pessoas realmente estavam interessadas no meu trabalho e que iriam ver um filme porque eu estava nele, e que eu tinha uma responsabilidade em relação a eles.”
Exelente texto. Não sabia tantos detalhes desse ocorrido com Olivia. Saudades dessa grande dama do Cinema!
ResponderExcluirPoucas foram as estrelas de Hollywood que admirei, Olivia de Havilland está entre elas. Passei a admirá-la com o filme "Na Cova das Serpentes", que vi na sessão de Filmes Inesquecíveis da extinta TV Tupi nos anos 70. Foi amor a primeira vista. Depois vieram outros filmes maravilhosos. Parabéns pela pesquisa e homenagem!....
ResponderExcluirMuito Obrigado!!!
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