"Bette está de volta". Foi assim que anunciaram no cartaz de "Mulher Marcada", o retorno de Bette Davis para a Warner, após um período turbulento entre a atriz e o estúdio. Após perder o processo que moveu contra o estúdio, em busca de melhores condições de trabalho, Bette foi obrigada a retornar e a cumprir seu contrato. Muitos pensaram que esse seria o seu fim, já que anos antes Kay Francis, que era considerada também a "Rainha da Warner", moveu um processo contra o estúdio e perdeu. Além de sofrer um boicote até o final de sua carreira como atriz. Mas para Bette, esse seria um novo começo em sua carreira e logo de cara apareceu o roteiro de "Mulher Marcada", um drama com elementos de filme gângster, gênero que estava em bastante evidência durante a década de 30 e que começava a declinar por causa da censura.
Embora, logo no início do filme, haver um letreiro informando que a história é fictícia, o enredo do filme lembra muito o embate entre o promotor público Thomas E. Dewey, contra o gângster Lucky Luciano. Luciano, era dono de uma rede de prostituição, além de comandar a rede do crime em Nova York. Dewey usou justamente os testemunhos de prostitutas, para provar que Luciano estava por trás de todo o esquema de prostituição que tomava conta da cidade.
No filme, Bette interpreta Mary Dwight, uma prostituta de um clube noturno. Embora seja nítida a profissão da personagem, a palavra prostituta não é mencionada, devido à instalação do Código Hays, que na época começava a ganhar forma nas produções cinematográficas, tanto que até mesmo o gênero gângster, começara a declinar, pelo fato da censura não permitir a "glorificação" do estilo de vida criminoso, fazendo com que os bandidos no final pagassem por seus crimes.
Mary, ganha a vida como prostituta, para pagar os estudos de sua irmã Betty (Jane Bryan). Sua irmã nada sabe da vida da irmã, achando que ela no fundo trabalha em uma loja. Quando Betty decide visitar Mary, a encontra envolvida em uma trama de assassinato: um rapaz que havia saído com Mary, acaba sendo assassinado, por tentar aplicar um golpe na boate onde Mary trabalha. Mary acaba sendo uma das suspeitas, já que foi praticamente a última pessoa que viu o rapaz com vida e acaba sendo detida por David Graham (Humphrey Bogart), promotor público que tem como meta, prender o gângster Johnny Vanning (Eduardo Ciannelli), responsável por um grande esquema de prostituição, jogatina e corrupção.
Para se ver livre da acusação de assassinato, Mary acaba se aliando a Johnny e engana David. Quando Mary é inocentada, David mostra que ficou magoado com a atitude dela. Mas a vida de Mary muda, quando sua irmã durante o tribunal, descobre sua real profissão. Betty se revolta e decide não voltar para a escola, por vergonha da reputação de Mary. Enquanto isso, Johnny continua com seus esquemas corruptos e Betty acaba sendo uma de suas vítimas. Mary decide então, travar uma guerra conta o gângster, mesmo que isso seja a última coisa que ela faça em sua vida.
Mesmo com uma presença masculina forte, no caso, Eduardo Ciannelli, como o inescrupuloso Johnny, o filme acaba fazendo jus ao título e é um filme não só apenas de Bette Davis, mas também das atrizes que lhe acompanham. Nesse filme, não há aquela rivalidade clássica entre mulheres: em determinado ponto da história, elas se unem mais ainda, para derrubar a figura masculina opressora. Tanto na vida real, quanto no filme, as prostitutas são as reais heroínas. Elas que dão a cara a bater. Elas que vencem o medo e decidem acabar com os abusos que sofrem. O filme mostra também a marginalização das prostitutas, que são menosprezadas por sua profissão.
Bette Davis viu em Mary Dwight, a oportunidade que ela esperava há algum tempo: um papel dúbio e desafiador. Sua atuação é forte, quase exagerada, é como se sua vida dependesse daquele papel e realmente dependia: talvez se o filme fracassasse, sua carreira também se findaria. Bette estava tão disposta a dar o melhor de si para o papel, que foi atrás de seu médico e o instruiu a fazer curativos nela, como se ela tivesse levado uma grande surra. O filme acabou sendo um sucesso e colocou Bette Davis em um patamar acima na Warner, fazendo com que fosse considerada a número um do estúdio e conquistando um pouco mais de respeito de Jack Warner, mas isso não garantiria à Bette que ela teria uma carreira tranquila dali pra frente. Haveriam outros embates mais à frente onde Bette sairia vitoriosa de alguns, mas também sairia derrotada de outros.
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