O Cinema Mudo foi um período bastante rico, assim como um período em que surgiram diversos elementos presentes nos filmes produzidos até hoje. Foi no Cinema Mudo que surgiu o Expressionismo Alemão, um dos movimentos mais importantes dentro e fora do cinema, assim como surgiu também o endeusamento dos atores e atrizes. Surgiu também o termo "símbolo sexual", mas não da forma que conhecemos hoje em dia. Surgiu de uma maneira bem diferente. E é aí que entram as "Vamps", um dos termos para os símbolos sexuais, designado às mulheres.
"Vamp" era denominado para as mulheres (personagens ou atrizes) que carregavam uma densa energia sexual predatória. Na maioria das vezes, as Vamps eram mulheres sedutoras, perigosas, com forte carga sexual e de personalidade bastante forte. Esse termo também era usado para designar mulheres misteriosas e exóticas. A composição de uma Vamp, consistia na maioria das vezes em uma roupa preta ou escura, maquiagem forte, principalmente ao redor dos olhos, em alguns casos cabelos crespos ou desgrenhados e lábios pretos.
As Vamps possuíam no cinema mudo um gênero "inimigo": as Gamines. As Gamines eram mulheres de aspecto frágil, inocente, que despertam um sentimento de "proteção". Atrizes como Mary Pickford e Lillian Gish, carregavam essa alcunha no Cinema Mudo. Anos mais tarde, já no cinema sonoro, Audrey Hepburn seria uma das atrizes que carregariam a alcunha de Gamine.
Musidora foi uma das primeiras Vamps do cinema, graças ao seu papel em "Les Vampires" em 1915. No filme, Musidora interpreta Irma Vep (seu nome é um anagrama de Vampire-Vampiro), uma líder de uma gangue criminosa. Ironicamente, o filme não foi bem recebido na época do lançamento, sendo considerado inferior em termos de qualidade aos filmes que eram produzidos no momento, mas o termo "Vamp", acabou pegando e Musidora é constantemente lembrada como uma das atrizes que receberam essa alcunha.
Theda Bara é uma das mais famosas Vamps do Cinema Mudo. Seu nome de batismo era Theodosia, que não era considerado muito atraente para uma estrela de cinema. Então decidiram que Theda Bara, um anagrama de "Morte Árabe", seria mais apropriado. Inclusive em um de seus poucos filmes sobreviventes, "A Fool There Was", sua personagem é chamada de "Vamp", sem sequer ter um nome próprio. Foi a partir de então que recebeu a alcunha de "Vamp". Durante a divulgação de "Cleópatra" (1917), os executivos da Fox criaram uma lenda sobre suas origens, dizendo que Theda era filha de um Sheik Árabe. O mito de Vamp se fortaleceu. A maioria dos historiadores de cinema, considera Theda Bara o primeiro símbolo sexual feminino do cinema.
Em "Genuine", Fern Andra, interpreta a personagem título, uma succubus (uma espécie de vampiro-demônio que ataca homens durante o sono), que usa de seus poderes para seduzir e atormentar os homens que deseja.
Greta Garbo também foi uma das Vamps do Cinema Mudo. Durante esse período, fez na maioria das vezes, mulheres predadoras, misteriosas e perigosas. Mas foi em "A Carne e o Diabo" (Flesh and the Devil), que lhe deu a alcunha de Vamp. No filme, Garbo vive Felicitas, uma mulher que causa a discórdia entre dois amigos, casando-se com um deles e instigando sexualmente o outro.
A versão de 1922 de "Sangue a Areia" (Blood and Sand), transformou Nita Naldi, em uma das Vamps da era silenciosa. No filme, a atriz interpretou Dona Sol, responsável por levar à ruína o personagem de Rudolph Valentino. O filme fez um grande sucesso e a dupla se reuniu mais vezes em outros filmes, incluindo "Cobra", onde mais uma vez Naldi faria uma Vamp. O filme não foi bem recebido e acabou sendo o último filme da dupla.
Pola Negri, foi uma das atrizes que levaram a alcunha de "Vamp". Ainda no Cinema Mudo, fez uma grande parceria com Ernst Lubitsch, estrelando alguns filmes alemães. Foi com Lubitsch em 1918, ao fazer "Carmen", que a alcunha "Vamp" lhe foi dada. Quando se tornou contratada da Paramount, o estúdio se lembrou da fama de predatória das personagens de Negri e trabalhou em cima disso, criando uma figura exótica e selvagem dela. O resultado foi uma briga entre Pola Negri e Gloria Swanson, que na época era considerada uma das rainhas do estúdio. Pola talvez tenha sido a única atriz que tenha se incomodado com a alcunha de Vamp. Ficou bastante desgostosa com a forma em que sua carreira e sua imagem eram tratadas pelos executivos da Paramount.
O curioso sobre o termo "Vamp", é que na maioria das vezes, o público confundia personagem e atriz, achando que as atrizes em seu cotidiano, agiam como suas personagens nas telas. A maioria das atrizes consideradas Vamps, em seu cotidiano eram mulheres tímidas, reservadas, mas também cultas, inteligentes e de forte personalidade, já que na maioria das vezes os filmes tratavam as Vamps como seres sexuais, perversos, sem traços de personalidade profunda ou intelectualidade.
Era comum também, na maioria dos filmes, as Vamps serem demonizadas por terem sua sexualidade esclarecida e pagarem por isso com a morte, uma forma de mostrar para o público que a liberdade sexual era considerada imoral e pecaminosa. Quando o Cinema Mudo deu espaço para o Cinema Sonoro, as Vamps caíram no esquecimento. Anos mais tarde, foram substituídas pelas "Femme Fatales" dos filmes Noir.
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