29 de março de 1951. Poderia ter sido um dia qualquer se não fosse pelo fato de haver em Hollywood, a 23ª edição do Oscar. A cerimônia tinha o intuito de premiar os melhores do ano anterior. "A Malvada", um dos grandes sucessos de 1950, estava na disputa em 14 categorias, na categoria de Melhor Atriz, suas duas estrelas principais Bette Davis e Anne Baxter (a "Malvada" do titulo). Junto com elas concorriam Elanor Parker por "À Margem da Vida", Gloria Swanson por "Crepúsculo dos Deuses" e Judy Holliday por "Nascida Ontem". Judy venceu.
Para alguns cinéfilos essa foi uma das maiores injustiças de todos os tempos, já que Bette e Gloria eram as favoritas. Por ter ganho o Oscar, Judy acabou recebendo a alcunha de "zebra", já que era a que menos merecia o prêmio na concepção de algumas pessoas e infelizmente acabou sendo estigmatizada por esse episódio e toda sua carreira gloriosa como comediante, acabou sendo esquecida. Hoje, quando relembrada, Judy é apenas citada brevemente como a ganhadora do prêmio, a atriz que derrotou as gigantes Bette Davis e Gloria Swanson. Uma injustiça tremenda com Judy que foi muito mais que isso.
Seu nome de batismo era Judith Tuvim e ela começou a carreira em 1938, em uma boate, usando seu nome de batismo. Em 1944 fez uma pequena ponta em um filme. Sua estreia na Broadway aconteceu no ano seguinte e pelo seu desempenho na peça "Kiss Them For Me", ganhou um prêmio Clarence Derwent. Em 1946, faria a versão teatral de "Nascida Ontem" (Born Yesterday), papel que fora originalmente escrito para Jean Arthur, que abandonou a peça pouco tempo depois da estreia.
Em 1949, começaram rumores de que a peça seria adaptada para o cinema. A Columbia comprou os direitos de adaptação e saiu em busca de uma atriz para o papel principal. Harry Cohn imediatamente descartou Judy Holliday, pelo fato dela não ser grande conhecida do público que frequentava os cinemas. A favor de Judy estavam George Cukor, que viria a dirigi-la no filme, Katharine Hepburn e Spencer Tracy. O trio garantiu um papel para Judy em "A Costela de Adão" (The Adam's Rib), fazendo com que Judy passasse a ter visibilidade. Harry Cohn então a considerou para o papel, com a condição que ela fizesse um teste e passasse nele. Judy fez o teste e foi aprovada.
No filme, Judy interpreta Billie, uma mulher tida como "burra" e ingênua, namorada de Harry (Broderick Crawford) um empresário com negócios inescrupulosos, que a maltrata e sempre faz questão de diminui-la. Quando o jeito de ser de Billie ameaça os negócios de Harry, ele então contrata Paul (William Holden), para que ele lhe dê "aulas" de etiqueta e a transforme em uma mulher elegante e culta. Porém, Paul se encanta com Billie e decide fazer muito mais por ela: faz com que ela perceba que o meio em que vive lhe é nocivo e que ela no fundo é uma pessoa sensível e que precisa de instrução para sair da vida vazia e abusiva em que vive. Paul apresenta o mundo para Billie, em forma de livros, museus e músicas e esta percebe que é uma pessoa capaz de fazer coisas e pensar por si mesma. Tal revolução acaba incomodando Harry, que acaba percebendo que sua influência abusiva sobre Billie está com os dias contados.
Judy era uma comediante nata e deu o tom exato para Billie: usou de todos os estereótipos impostos sobre a "loira burra", mas mesmo assim não fez do papel uma caricatura. Acabou trazendo humanidade e simpatia para a personagem, fazendo com que a audiência torcesse pela emancipação da personagem. Tal esforço foi compensado com uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Atriz. Judy concorreu ao lado de atrizes com interpretações intensas: Eleanor Parker vivia uma presidiária que é corrompida pelo sistema carcerário em "À Margem da Vida". Bette Davis vivia Margo Channing, uma atriz de teatro que tem o tapete puxado por Anne Baxter em "A Malvada". Ambas indicadas. Gloria Swanson em retorno triunfal, vivia Norma Desmond, uma atriz decadente do cinema mudo em "Crepúsculo dos Deuses". Judy derrotou todas elas tanto no Oscar, quanto no Globo de Ouro.
Após o Oscar, Judy continuou com sua carreira teatral. Seu último filme foi "Essa Loura Vale Um Milhão", em 1960, ao lado de Dean Martin e direção de Vincente Minnelli. Judy havia feito uma versão teatral do filme anos antes e chegou a ganhar um Tony por seu desempenho na peça. Após concluir as gravações de "Essa Loura Vale Um Milhão", Judy descobriu um tumor na mama. Decidiu se afastar do cinema e do teatro, para tratar a doença. Em 1963 faria sua última peça na Broadway "Hot Spot". Judy acabou sendo vitimada por câncer em 7 de junho de 1965 aos 43 anos.
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