Bette Davis é até hoje reconhecida por interpretar mulheres perversas, más e dissimuladas, porém sua filmografia vai além desses rótulos. Em boa parte de sua carreira, Bette interpretou também mulheres de boa índole, de caráter limpo e de bastante personalidade. Raramente suas mocinhas eram sonsas e fracas, muito pelo contrário: suas mocinhas sempre desafiavam os valores impostos pela sociedade. Suas personagens, em sua maioria eram mulheres feministas e à frente do seu tempo, mesmo que na época, a ótica feminista dessas personagens não pudesse ser vista: até mesmo algumas vilãs como Regina Giddens, por exemplo, carregam essa veia feminista e o empoderamento.
Em "O Coração Não Envelhece" (The Corn is Green), não seria diferente. Mais uma vez, Bette interpreta uma mulher feminista e à frente de seu tempo: a professora Lily Cristobel Moffat, ou apenas a Sra. Moffat. Moffat é mais uma personagem apaixonante interpretada por Bette Davis: uma mulher com mais de 30 anos, solteira e super segura de si. Nota-se em determinados diálogos que ela optou por estar solteira e que considera o casamento uma coisa ultrapassada.
Outra característica forte é ela andar pela cidade de bicicleta, uma coisa que pode ser besta, mas que para uma mulher na época em que o filme é retratado é algo bastante avançado. Moffat também dirige sua própria carruagem. Suas visões sobre homens e religião são bastante convincentes e de certa forma incomodam os demais personagens.
Ao chegar em uma cidadezinha galesa após herdar uma casa de um tio, Moffat se depara com a condição precária dos adolescentes do local. Os adolescentes são analfabetos e trabalham em período integral em uma mina de carvão. Inconformada com a vida que os jovens levam, Moffat decide intervir por eles e criar uma escola onde possa ensiná-los a ler, escrever e pensar por si próprios. Os maiores obstáculos de Moffat são o dono da mina de carvão que não quer que seus empregados tenham conhecimento, pois sabe que irá perdê-los e o latifundiário (Nigel Bruce) que também é contra a fundação da escola, por achar que ela em nada beneficiaria as pessoas.
Moffat decide usar um celeiro abandonado para fundar a escola, mas depois da recusa do dono em vendê-lo, acaba fundando a escola em sua própria casa. Mesmo sofrendo diversas retaliações, Moffat mantêm-se decidida a dar uma luz de esperança para os jovens do local, fazendo com que eles procurem conhecimento. Para atrair os jovens e receber apoio de suas famílias, Moffat paga uma pequena quantia, para ajudar nas despesas das famílias dos jovens que se matricularam em sua escola. Aos poucos, Moffat consegue trazer os jovens para sua escola e começa a alfabetiza-los e prepara-los para o mundo. Com o tempo, até mesmo os adultos, passam a frequentar sua escola, entre eles o próprio latifundiário que era contra a fundação da escola.
Entre os jovens, está Morgan Evans (John Dali), que acaba despertando a atenção de Moffat, devido à sua inteligência e sensibilidade. Moffat decide então investir em Evans, para que ele consiga uma bolsa de estudos em Oxford e que passe a ser um exemplo de superação para os outros jovens, para que eles tenham confiança em suas capacidades. Evans começa os estudos, mas passa por diversas crises existenciais, sempre questionando sua capacidade e sempre com medo de não corresponder às expectativas de Moffat. Quando Evans adquire confiança em si mesmo e passa a estudar mais e faz o exame para entrar em Oxford, ele acaba se envolvendo com Bessie (Joan Lorring), filha da governanta de Moffat. O envolvimento dos dois traz sérias consequências à Moffat, que se vê obrigada a ocultar determinados acontecimentos de Evans, para não prejudicar seu futuro brilhante.
O filme, foi baseado em um livro homônimo e semi-autobiográfico, escrito por Emlyn Williams em 1938. Em 1940, uma adaptação teatral foi criada na Broadway e contou com Ethel Barrymore no papel de Moffat, inclusive Bette Davis chegou a assistir uma das apresentações e emocionada, chegou a ir ao camarim de Ethel e parabenizá-la por seu desempenho. Ao ver que a peça daria uma boa adaptação cinematográfica, Bette pediu para Jack Warner comprar os direitos de filmagem do texto, mas isso só ocorreria anos mais tarde, em 1945.
Mais uma vez, Bette Davis não se importou em se despir de qualquer tipo de vaidade, em nome de uma personagem: para interpretar uma mulher mais velha, usou peruca, passou por um processo de maquiagem que a envelhecia e usou roupas com enchimento. Inclusive a peruca lhe salvou a vida, quando um refletor caiu acidentalmente sobre sua cabeça.
Após essa versão cinematográfica, o texto de Emlyn Williams, voltou para o teatro em diversas adaptações, em uma dessas adaptações, no final dos anos 70, Bette Davis voltou a interpretar Moffat, mas agora em uma versão musical, que foi um completo desastre, sem ao menos chegar à Broadway. Ainda no final dos anos 70, em 1979, houve uma versão para a televisão, dirigida por George Cukor e com Katharine Hepburn, no papel principal. Em 1985, a peça foi reavivada em Londres, com Deborah Kerr, interpretando Moffat.
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