Lizabeth Scott foi uma das grandes femme fatales do cinema noir. Seu timbre de voz rouco, fazia com que ela se destacasse das demais atrizes do gênero. Curiosamente, fora das telas não era uma diva e não fazia muita questão de ser glamorosa. Preferia ser bem simples e vivia uma vida bastante discreta, até que um escândalo trouxe à tona detalhes obscuros de sua vida, que culminaram com o fim de sua carreira.
Nascida Emma Matzo em 29 de setembro de 1922, Lizabeth foi escolhida como atriz substituta de Tallulah Bankhead em 1942. Sua ascensão é cercada de boatarias. Dizem que Lizabeth e Tallulah eram envolvidas romanticamente e que Lizabeth tentou "puxar o tapete" de Tallulah para ficar com seu papel na peça "Thornton Wilder’s The Skin of Our Teeth". Tal acontecimento teria inspirado o roteiro de "A Malvada" (All About Eve) em 1950. A boataria logo foi desmentida, usando o argumento de que a história do filme se baseou em "The Wisdom of Eve", de Mary Orr, baseado em um incidente real envolvendo a atriz austríaca Elisabeth Bergner. Curiosamente, Orr sequer foi creditada no filme. Outra versão da história, seria que Lizabeth tinha um caso com um dos produtores da peça de Tallulah e que foi usada por ele como uma forma de "ameaçar" Tallulah Bankhead, que era possuidora de um gênio bastante difícil e que estava dificultando bastante a produção da peça. No final, Tallulah acabou sendo realmente substituída, mas quem ficou em seu lugar foi Miriam Hopkins.
Após um período de sucesso nos teatros, Lizabeth desembarcou no cinema. Seu filme de estreia foi "Amarga Ironia" (You Came Along) de 1945, porém seria no próximo filme que sua carreira começaria realmente a deslanchar. Em "O Tempo Não Apaga" (The Strange Love of Martha Ivers), do ano seguinte, Lizabeth conseguiu chamar a atenção do público, ao interpretar a mocinha Toni no filme. Durante as gravações, Lizabeth e Hal B. Wallis, um dos produtores do filme, possuíam um caso. Wallis queria dar mais destaque a Lizabeth, mesmo que isso prejudicasse Barbara Stanwyck, a real protagonista do filme, no caso a vilã. Como Lizabeth fazia a mocinha, Wallis acreditava que seria fácil promovê-la em detrimento de Stanwyck. Stanwyck teve seu número de cenas reduzidas, mas mesmo assim no final, conseguiu ser a grande estrela, mas mesmo assim Lizabeth conseguiu ter o seu destaque à parte.
Sua fama como femme fatale, viria no próximo filme: "Confissão" (Dead Reckoning) em 1947. A partir de então, Lizabeth faria uma sequência de filmes, sempre como a mulher sedutora e de caráter ambíguo que se envolve com o protagonista. O seu grande momento viria em 1949 em "Lágrimas Tardias" (Too Late for Tears ), filme noir em que interpreta uma mulher sem escrúpulo algum. Seu desempenho é bastante marcante e diferenciado nesse filme, pois na maioria dos filmes desse gênero, as mulheres eram designadas aos papéis secundários e nesse filme, a personagem de Lizabeth detêm toda a ação.
Em 1955, Lizabeth seria capa de tabloides, ao ter seu nome envolvido com prostituição. Uma batida policial em um bordel em Hollywood Hills, fez com que a polícia encontrasse um caderno com números telefônicos de clientes do estabelecimento. Muitos desses clientes eram figurões do cinema. E supostamente o nome de Lizabeth Scott estaria entre eles. A revista "Confidential" foi a responsável em trazer o caso à tona e expôs Lizabeth o máximo que pode, gerando uma onda de sensacionalismo nos jornais e revistas. Logo, Lizabeth viu seu nome ser associado a lésbicas e nesse tempo, em Hollywood, ser gay ou lésbica era algo bastante encoberto e considerado imoral e quem era exposto, amargava um fim de carreira.
Lizabeth moveu um processo contra a revista "Confidential" e acabou perdendo por um motivo torpe: ao invés de abrir o processo em Nova York, onde a matéria fora publicada, Lizabeth abriu o processo na Califórnia. Após o escândalo, Lizabeth ficou reclusa, retornando apenas em 1957, com dois filmes: "O Seu Primeiro Crime" (The Weapon) e "A Mulher que eu Amo" (Loving You), esse último ao lado de Elvis Presley. Ainda em 1957, Lizabeth chegou a gravar um álbum com 12 músicas, intitulado "Lizabeth", chegando a se apresentar em alguns programas televisivos. Após o escândalo, a carreira de Lizabeth nunca mais foi a mesma. Ela faria outro filme apenas em 1972: "Diário de um Gângster" (Pulp), sendo esse seu último filme, além de raras aparições televisivas. A partir de 1972, Lizabeth tornou-se reclusa, apenas mantendo contato com pessoas íntimas e raramente concedendo entrevistas ou fazendo aparições públicas.
Lizabeth faleceu aos 95 anos em 31 de janeiro de 2015. Lizabeth tornou-se tão reclusa e discreta que a notícia de sua morte se tornou pública semanas após. Certa vez em uma rara entrevista, anos após sua carreira ter terminado ela declarou: "Estou intrigada. Por que existem tantas pessoas no mundo que são contrárias a tudo? Vamos ser a favor das coisas. Há gente demais contra".
Gente,alguém pode me explicar o que é filme noir?
ResponderExcluirOlá Flávia. Aqui no blog tem um post resumindo isso.
ExcluirDá uma olhadinha.
Até hoje os especialistas não chegaram a um consenso se o noir é um gênero (como drama, comédia, suspense) ou um estilo de filmagem. A classificação foi cunhada em 1946 pelo crítico francês Nino Frank para se referir a um tipo de longa-metragem de suspense que estava em voga nos anos 1940, com ambientação urbana, temática criminal e anti-heróis.
ResponderExcluirO visual costumava ter fortes influências da corrente cinematográfica conhecida como expressionismo alemão e da técnica de claro/escuro do pintor barroco Caravaggio (daí a escolha do termo “noir“, que significa “preto” em francês). Porém, esse termo (e o prestígio dos filmes noir) só se consolidou na década de 1970. Os protagonistas costumam ter objetivos dúbios, cínicos e até cruéis. O herói nem sempre salva e, às vezes, é até violento. A suposta vítima não é tão indefesa. E o interesse amoroso pode ser a vilã da trama. Outra característica era a iluminação de três pontos. Havia uma fonte de luz para estabelecer o escuro (sombras), outra para o claro (contraste com o negro) e outra para criar um gradiente de cinza, regulada para criar a “atmosfera” da cena. Com frequência, os personagens eram banhados por longas sombras lineares, projetadas de barras da prisão, escadas ou venezianas nas janelas. As tramas tinham um forte componente urbano e adoravam mostrar a cidade como um lugar opressor, perigoso e capaz de corromper os homens de bem. Cenas à noite e chuvosas reforçavam a ideia. Problemas sociais eram temas recorrentes – as histórias eram recheadas de crimes, investigações policiais, figuras marginalizadas, álcool e cigarro. O auge dos filme noir foi nos anos 40 e 50.
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