Ingrid Bergman foi uma das maiores atrizes que o cinema pôde ter. Sempre discreta e profissional, procurava sempre estar longe das colunas de fofocas, mas após conhecer Roberto Rossellini, fazer um filme com ele e se apaixonar perdidamente, a ponto de deixar seu marido e sua filha e ir rumo à Itália viver um grande amor, Ingrid não só estampou a capa de diversos tabloides, como também teve seu nome e sua imagem banidas de Hollywood, por seu comportamento julgado imoral e vulgar. Ficou anos sem pisar nos Estados Unidos, mas graças a esse exílio que lhe foi imposto, teve a oportunidade de sair da zona de conforto e junto com Rosellini, foi uma das figuras mais presentes no Neorrealismo do cinema italiano.
Ao assistir os filmes "Roma, Cidade Aberta" (Roma, città aperta) e "Paisà", Ingrid ficou fascinada com os filmes. Descobriu o endereço de Rossellini e lhe enviou uma carta dizendo como os filmes a haviam tocado e também se ofereceu para trabalhar com ele futuramente. Nessa época, Ingrid já havia ganho seu primeiro Oscar por "Gaslight" e já havia se consagrado entre os grandes nomes de Hollywood, além de ser reconhecida por "Casablanca", filme ao qual ela nunca se sentiu muito feliz por ter feito.
Mesmo com Ingrid sendo famosa, Roberto não a conhecia. Respondeu a carta cordialmente e lhe chamou para um teste, para um filme que estava em produção: "Stromboli". Na época, Ingrid havia acabado de finalizar as gravações de "Joana D'Arc" (Joan of Arc), dirigido por Victor Fleming. Sem nenhum tipo de cerimônia, Ingrid deixou o marido Petter Lindström e sua pequena filha Pia e embarcou para a Itália, para fazer testes para o filme.
Durante a produção de "Stromboli", Ingrid e Rossellini se apaixonaram e iniciaram um caso. Roberto vivia um romance com Anna Magnani, conhecida por seu forte temperamento. Ingrid acabou engravidando de Rossellini e o fato se tornou público. Roberto abandonou Anna sem cerimônias, enquanto Ingrid teve que enfrentar seu marido, sua filha e toda a imprensa americana.
Ingrid chegou a ser denunciada no Senado dos Estados Unidos. Sem alternativa, largou o marido e a filha e voltou para a Itália. Devido ao escândalo, seu nome entrou na lista negra de Hollywood e as divulgações de "Joana D'Arc" e "Sob o Signo de Capricórnio" (Under Capricorn) foram bastante prejudicadas, fazendo com que os filmes fracassassem nas bilheterias.
Em uma entrevista, Ingrid chegou a declarar que as pessoas confundiam seus papéis desempenhados nos filmes, com a sua imagem real. Ingrid havia até então desempenhado em maioria, papéis de moças boas, chegando até a interpretar uma freira em "Os Sinos de Santa Maria" (The Bells of St. Mary's). Na ocasião ela disse: "As pessoas me viram em 'Joana d'Arc' e me declararam uma santa. Não sou. Sou apenas uma mulher, um ser humano".
"Stromboli" chegou as cinemas e acabou fracassando. Havia na época uma outra produção com enredo semelhante: "Vulcano", estrelado por Anna Magnani. As comparações foram inevitáveis, mas ambos os filmes não fizeram sucesso, mesmo com toda a atmosfera sensacionalista em cima de Ingrid, Rossellini e Magnani. Ingrid e Rossellini foram um dos nomes mais importantes do Neorrealismo Italiano: ao todo fizeram cinco filmes juntos: "Stromboli", "Europa'51", "Viagem à Itália" (Viaggio in Italia), "O Medo" (La Paura) e "Joana D'Arc" ( Giovanna d'Arco al rogo), além de um episódio para o filme "Nós, as Mulheres" (Siamo donne).
Em 2 de fevereiro de 1950, nascia Renato Roberto, o primeiro filho do casal. Eles ainda teriam as gêmeas Isotta e Isabella, nascidas em 1952. Ingrid enfrentou um longo processo pela custódia de sua primeira filha, Pia. Ingrid conseguiu apenas o direito de passar alguns meses do ano com sua filha. A custódia integral ficou com Peter. Após receber o divórcio, ela e Rossellini se casaram no México, em 1950. Enquanto esteve na Itália e casada com Rossellini, Ingrid foi esquecida em Hollywood e quando mencionada era sempre como um mal exemplo a ser seguido. Ironicamente, no mesmo período Katharine Hepburn e Spencer Tracy mantinham um caso que era notório por muitos, chegando ao ponto de morarem juntos, porém não sofreram nenhum tipo de boicote ou repressão.
Após descobrir um caso extraconjugal de Roberto, Ingrid pediu o divórcio. Ficaram casados oficialmente entre 1950 e 1957. Em 1956, Ingrid recebeu o convite de Jean Renoir, para estrelar a comédia "As Estranhas Coisas de Paris" (Elena et les Hommes). O filme não foi um grande sucesso, mas pôde trazer Ingrid Bergman de volta ao cenário cinematográfico. Graças a esse filme, Ingrid foi convidada por Anatole Litvak, para estrelar "Anastasia", filme que abordava a história de Anastasia da Rússia e o famoso mito em torno de sua imagem, de que ela havia sobrevivido à chacina que vitimou toda sua família.
Ingrid aceitou o convite para fazer o filme, mas cheia de medo de ser hostilizada pelos americanos. Ela impôs apenas uma condição: que o filme não fosse rodado nos Estados Unidos. Com a condição aceita, Ingrid aceitou o papel. O filme teve cenas gravadas em Londres, Dinamarca e Paris. "Anastasia" acabou sendo um grande sucesso e marcou como o retorno triunfal de Ingrid Bergman, após tantos anos sendo boicotada e hostilizada. Por seu desempenho, Ingrid levou a estatueta de melhor atriz, Oscar que alguns acham contraditório, pois a preferida daquele ano era Deborah Kerr em "O Rei e Eu" (The King and I). O Oscar acabou sendo no fundo, um pedido de desculpas, pela hipocrisia e caça às bruxas contra Ingrid. Receosa, Ingrid não compareceu à cerimônia e quem recebeu a estatueta em seu lugar, foi Cary Grant.
Em 1958, Ingrid fez sua primeira aparição em Hollywood, após o escândalo, na cerimônia do Oscar, para apresentar a categoria de Melhor Filme. Ela foi recebida calorosamente pelo público e foi ovacionada em pé. Mesmo tendo a certeza de que era amada pelos americanos novamente, Ingrid Bergman, continuou a fazer filmes europeus, alternando com filmes americanos. Essa sua decisão faria com que sua carreira ganhasse um novo fôlego, lhe permitindo trabalhar com grandes nomes como Ingmar Bergman. Em 1975, Ingrid ganharia seu terceiro Oscar, agora como atriz coadjuvante, pelo filme "Assassinato no Expresso Oriente" (Murder on the Orient Express), sob direção de Sidney Lumet. Ingrid chegou a receber em 1972, um pedido de desculpas público do Congresso Americano, pelos ataques sofridos na época do seu envolvimento com Rossellini.
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Texto ótimo de uma história incrível sobre uma atriz espetacular. Parabéns!
ResponderExcluirObrigado amigo!
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ResponderExcluirGostaria de saber por que ela não gostou de ter feito Casablanca
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