DOROTHY ARZNER - A PIONEIRA ESQUECIDA

Dorothy Arzner foi uma das poucas mulheres a exercer o ofício de direção, quando o cinema passou a ser considerado lucrativo e administrado por homens. Na maioria das vezes, nos lembramos apenas de Ida Lupino como uma das diretoras de filmes durante esse período em Hollywood. Dorothy estava lá um pouco antes, fez grandes filmes, mas ao contrário de Ida Lupino, hoje segue quase esquecida, sendo lembrada apenas por cinéfilos que estudam a história do cinema profundamente.
A carreira de Dorothy começou ainda no cinema mudo, no final dos anos 20. Seu amor pelo cinema começou após fazer uma visita a um estúdio. Largou a Medicina e decidiu ser diretora de cinema. Mas para alcançar seu sonho, Dorothy começou por baixo: começou como datilógrafa, passando por edição de filmes e elaboração de roteiros. Como editora de filmes, foi responsável por "Sangue e Areia" (Blood and Sand) de 1922, trabalho ao qual recebeu diversos elogios. No final de 1926, Dorothy já era considerada uma editora de respeito e recebeu uma proposta de trabalho na Columbia, que era rival da Paramount, estúdio onde Dorothy trabalhava. Para não mudar de estúdio, Dorothy exigiu que dali pra frente além de editora, ela seria também diretora de filmes. A Paramount acatou sua condição e Dorothy dirigiu "Fashions for Women" em 1927.
Dorothy dirigiu o primeiro filme falado da Paramount: "The Wild Party" de 1929, estrelado por Clara Bow. Com esse filme, Dorothy seria também a primeira mulher a dirigir um filme sonoro. Durante o filme Dorothy usou uma técnica onde o microfone era pendurado em uma vara de pesca e com isso acompanhava o ator durante a cena. Um ano depois, Edmund H Hansen, engenheiro de som da Fox, patenteou um dispositivo de gravação semelhante. Mesmo Edmund patenteando a criação, Dorothy é até hoje creditada como inventora dessa técnica de gravação.
"The Wild Party" foi um grande sucesso de bilheteria, sendo o terceiro filme mais lucrativo daquele ano. Seus próximos filmes imprimiriam seu estilo, sempre tendo mulheres de espírito livre, fortes, independentes e donas de suas escolhas. Em busca de novos desafios, Dorothy deixa a Paramount em 1932 e passa a dirigir filmes em diversos estúdios. Além de se tornar a primeira mulher a ingressar a Directors Guild of America, Dorothy foi responsável também em lançar a carreira de diversas atrizes como Katharine Hepburn, Sylvia Sidney, Rosalind Russell, entre outras.
Em 1943, dirigiria seu último filme: "First Comes Courage". Dorothy largou o cinema, mas continuou sendo produtiva: fez filmes de treinamento para o Corpo de Exército Feminino, produziu um programa de rádio, trabalhou em produções teatrais, deu aulas de cinema, tendo entre seus alunos Francis Ford Coppola e gravou comerciais para a Pepsi, a mando de Joan Crawford, com quem havia trabalhado anos antes em "Felicidade de Mentira" (The Bride Wore Red). Sendo uma das poucas mulheres em um cargo de poder, Dorothy se viu em meio a constantes ataques machistas, principalmente dos grandes chefes de estúdio. Teve conflitos com Louis B. Mayer e em seu último filme, após uma crise de pleurisia, foi demitida por Harry Cohn, que era um notório machista e foi substituída por Charles Vidor, que não foi creditado como diretor. .  Após esse episódio, seu nome e legado como diretora sofreriam um apagamento da história de Hollywood. Entre 1944 até meados da década de 80, seu nome seria pouco ou nunca mencionado em revistas ou artigos sobre cinema. Várias mulheres que contribuíram em Hollywood sofreram com esse apagamento, porém o apagamento de Dorothy foi mais cruel: além de ser mulher, ela era também lésbica e Hollywood era bastante preconceituosa naquele período.

Na década de 70, Dorothy recebeu diversas homenagens, tendo sua obra revisitada. O filme "The Wild Party", foi exibido no Primeiro Festival Internacional de Filmes Femininos, em 1972. No segundo festival, em 1976, sua obra completa recebeu uma retrospectiva. Em 1976, a Associação dos Diretores da América lhe prestou um tributo. Dorothy faleceu aos 82 anos em 1º de Outubro de 1979. Mesmo sendo quase esquecida, Dorothy segue até hoje sendo uma das mulheres resistentes e pioneiras da história do cinema, em uma época em que os homens dominavam completamente toda a indústria e as mulheres foram rebaixadas a cargos considerados "femininos" ou "insignificantes".
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