Serpente de Luxo - Baby Face |
Quem já viu algum filme pre-code, sabe o quanto Hollywood retrocedeu com a aplicação do Código Hays. É claro que mesmo a censura sendo tão destrutiva e hipócrita, colaborou também, para que a criatividade dos roteiristas fosse desafiada, ao abordarem mesmo que nas entrelinhas, assuntos polêmicos, em uma época claramente hipócrita e cheia de falsos moralismos. Os grandes estúdios sentiam na década de 20, uma necessidade de que todas as suas produções, passassem por uma autocensura prévia. Em 1922 em comum acordo, escolheram o pastor presbiteriano Will H. Hays, para presidir a Motion Picture Association of America, cargo que exerceu por 25 anos. Nos primeiros anos a censura agia levemente, mas em 1930 começou a agir com mais rigor, surgindo o "Código Hays" (Hays Code), que abolia nudez, tráfico de drogas, escravidão branca, miscigenação, qualquer indício de homossexualidade, perversão, qualquer afronta religiosa, entre outras coisas.
Sócios do Amor - Design for Living |
Alguns temas que poderiam ser abordados, mas com um certo cuidado eram o alcoolismo, prostituição, crueldade com animais ou crianças, assassinatos, suicídios, entre outros. Mesmo o código sendo oficialmente aprovado e reconhecido em 1930, tendo uma vigilância mais pesada sobre os filmes, foi em 1934 que o código realmente se fez valer. A partir daí começou literalmente uma caça às bruxas em Hollywood. Os filmes pre-code, possuíam características peculiares, assuntos como uso de drogas, prostituição, homossexualidade, palavrões, miscigenações, estupro, infidelidade e aborto, além da glamourização de gângsters e de mulheres que usavam o sexo como ascensão social. Além do Código Hays, outro inimigo dos filmes Pre-Code surgiu também em 1934: o Production Code Administration, uma emenda do Código Hays, que exigia que todo filme passasse por uma inspeção, para receberem um certificado de aprovação antes da estreia. O Production Code, era administrado por Joseph Breen, um fervoroso católico, que o administrou entre 1934 a 1954, chegando a ser mais poderoso que o próprio Código Hays, já que Breen tinha o poder de remover ou alterar as cenas dos filmes, além de também ter poder sobre os roteiros.
Ladrão de Alcova - Trouble in Paradise |
O Código começou a entrar em declínio nos anos 50, com a ascensão do cinema europeu e da televisão, onde o Código não exercia poder algum. Nesse período foram produzidos grandes clássicos que abordavam temas ousados e impensáveis para o auge da censura, como "Um Bonde Chamado Desejo" (A Streetcar Named Desire), "Juventude Transviada" (Rebel Without a Case), "Gata em Teto de Zinco Quente" (Cat on a Hot Tin Roof) e "De Repente, No Último Verão" (Suddenly, Last Summer), filmes que começaram a afrontar o Código, tratando de assuntos como estupro, rebeldia, sexo, homossexualidade, mesmo de forma ainda velada, mas muito mais explícita, do que era permitido. Mesmo com o Código em alta, alguns filmes conseguiram burla-lo e algumas cenas icônicas foram ao ar. Dois grandes exemplos: o beijo que Marlene Dietrich, vestida de smoking dá em uma moça em "Marrocos" (Morocco) e Greta Garbo fazendo que Ramón Novarro, apague uma vela de uma santa, antes de irem para a cama em "Mata Hari". Uma atriz que sempre causava rebuliço e dor de cabeça ao Código era Mae West, com suas piadas cheias de conotações de duplo sentido.
Scarface |
A Era Pre-Code, de certa forma, trazia as mulheres em pé de igualdade com os homens. Filmes como "A Divorciada" (The Divorcee), onde uma mulher traída tem a chance de dar o troco no marido, "Sócios do Amor" (Design For Living) onde uma mulher vive um relacionamento com dois homens ao mesmo tempo, "Serpente de Luxo" (Baby Face) e "A Mulher Parisiense de Cabelos de Fogo" (Red-Headed Woman), filmes que mostram duas mulheres que usam o sexo para subir na vida, manipulando os homens e os ridicularizando, contribuíram e muito como características desse período. Durante o Pre-Code também ocorreu a popularização dos filmes gângsters como "Scarface", "Inimigo Público" (The Public Enemy), "Alma do Lodo" (Little Caesar), entre outros.
Uma Alma Livre - A Free Soul |
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